Crítica

Ouvimos: Waxahatchee, “Tigers blood”

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  • Tigers blood é o sexto álbum de estúdio de Waxahatchee, o projeto musical criado em 2010 pela cantora e compositora norte-americana Katie Crutchfield. Todas as músicas foram compostas por ela.
  • O álbum tem produção de Brad Cook, que também toca violão barítono, baixo, sintetizador e faz vocais. Entre os músicos do disco, está Spencer Tweedy, filho de Jeff Tweedy (Wilco), tocando bateria.
  • Katie deixou de beber e largou velhos vícios em 2018. Seu álbum anterior, Saint cloud (2020) é definido por ela como “um disco de alguém ficando sóbrio”. O novo disco lida com a situação em outros aspectos. “Nem todas as faixas são dramas de amor. Ainda há muita coisa (no disco) sobre o vício e, especificamente, sobre estar em um relacionamento com outros viciados – mas também há músicas sobre como me sinto por estar na indústria da música e na cultura em geral”, contou ao jornal britânico The Guardian.

Tinha um lado indie e ruidoso na primeira fase da carreira de Katie Crutchfield (a Waxahatchee) que fazia bem aos ouvidos, e que foi sendo deixado de lado após Out in the storm – seu quarto disco, de 2017, tomado por uma sonoridade próxima do dream pop. Não era nada extremamente original, volta e meia lembrava uma PJ Harvey menos perigosa, mas tudo combinava perfeitamente com o conteúdo das letras, quase sempre vingativas e pesadas. Eram os casos de músicas como Brother Bryan, Never been wrong, Recite remorse e Misery over dispute.

Tigers blood, o disco novo, é mais um passo na mudança musical e pessoal de Waxahatchee. A cantora lutou contra o alcoolismo após 2018, e adotou uma sonoridade mais introvertida e mais voltada para o country e o folk em Saint cloud, disco de 2020. Prosseguiu na mesma linha no disco I walked with you a ways (2022), estreia do Plains, projeto dela com a cantora e compositora Jess Williamson.

A tranquilidade musical virou rotina no novo disco, e o reencontro com o passado, idem. Tigers blood traz canções aparentemente doces, mas as letras falam de antigos relacionamentos tóxicos, ou pelo menos relacionamentos em que as duas partes não estão no mesmo ritmo (e acabam sendo tóxicos mesmo assim). Boa parte do material novo é composto (diz a cantora) por metáforas sobre o que Katie deixou para trás quando promoveu mudanças em sua própria vida.

Isso rola no country Right back to it (que traz harmonias vocais de Jake Lenderman, da banda Wednesday), e nos versos lembrando a fase In utero, do Nirvana, em 3 sisters (“se você não está vivendo, então você está morrendo/apenas um nervo em carne viva satisfazendo algum resultado fútil”), na balada Burns out at midnight (“se meu coração de pedra pesa sobre você, querido/apenas acenda as luzes e dê por encerrada a noite”).

O som não é a mistura de country e punk que alguns críticos andam apregoando. A sonoridade é repleta de harmonizações vocais, violões, gaitas, guitarras em slide, e guitarras que soam como violões – e o intuito é mostrar Waxahatchee como basicamente uma cantora violeira e agridoce. Faz falta a sonoridade ácida de discos anteriores, mas Tigers blood é um disco de mudanças e transições que ainda podem levar para outros lugares.

Nota: 7,5
Gravadora: Anti

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