Crítica
Ouvimos: Vanarin, “Hazy days”
- Hazy days é o terceiro álbum da banda britânica-italiana Vanarin. Eles apresentam o disco como “um álbum conceitual onde cada faixa representa um instantâneo da atual evolução humana, continuamente dividida entre momentos de lucidez e desorientação, esperança e desilusão, em uma era cada vez mais nebulosa e desafiadora, dominada como é – para o bem ou para o mal – pela tecnologia”.
- O Vanarin tem na formação: David Paysden (voz, synth), Marco Sciacqua (guitarra, backing vocals), Massimo Mantovani (baixo, backing vocals) e Marco Brena (bateria, percussão).
Apesar de apontarem Public Image Ltd como referência, os italianos do Vanarin estão mais para seguidores do Radiohead, do TV On The Radio, do Nine Inch Nails e de discos recentes e inovadores, como The collective, de Kim Gordon. Toda essa musicalidade parece ter sido comida com farinha na hora de conceber Hazy days, um álbum cyberpunk, eletrônico e conceitual sobre a evolução humana.
Como disco conceitual, vale dizer que Hazy days deixa para a/o ouvinte completar boa parte da história: as letras são curtas, e às vezes têm frases quase ríspidas. Não existe muita esperança nas letras do Vanarin, que começa depositando uma fé irônica no futuro em Hey listen (“ouça as crianças lá fora/elas não sabem muito, mas sabem como tentar se esconder”). Só que em A fly on the wall o grupo constrói um cenário com “babuínos de cabelo laranja/falando como seres humanos” (referência a Donald Trump, claro) e frases como “mordendo a mão que alimenta/você sabia que você é o que você come?”. My circle é misantrópica (“não pise no meu círculo/não somos amigos”) e Falling under prega que “só quero acreditar/mas posso ver minha fé diminuindo”. Alguns momentos de calma são encontrados em Lost.
Musicalmente, o grupo é movido pela vontade de desafiar o formato “canção” – e o formato comum de rock. Parecem com um King Gizzard & the Lizard Wizard neo-soul em Hey listen, inventam uma espécie de soulgaze (!) em What we said, fazem trip hop ruidoso em My circle e começam a ser mais reconhecíveis como grupo de pós punk na dançante I don’t know. Já Lost é um lounge esquisito, com voz modificada eletronicamente, enquanto Falling under é basicamente um r&b lisérgico, com violões que parecem sampleados de algum folk das antigas. A fly on the wall soa como o balanço dos Kinks numa canção de house music dos anos 1990. Hazy days é o tipo de disco que roqueiros tradicionais vão rejeitar ou vão demorar para se acostumar, e isso já é ótimo.
Nota: 8
Gravadora: Dischi Sotterranei
Lançamento: 17 de janeiro de 2025.
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