Crítica

Ouvimos: Tunde Adebimpe, “Thee black boltz”

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Com o hiato do TV On The Radio (que já completou mais de dez anos), cada integrante foi realizar projetos pessoais. Tunde Adebimpe, cantor do grupo, reforçou sua lista de trabalhos como ator, em séries e filmes – e só agora lança seu primeiro álbum solo, Thee black boltz. Um disco tão cheio de carisma, vamos dizer assim, quanto seu próprio autor.

Thee black boltz surgiu numa época conturbada na vida de Tunde, que perdeu a irmã na época da pandemia – o músico revelou ao The Guardian que precisou tratar de tudo relativo ao enterro sozinho. O repertório já estava em andamento, e Jumoke, irmã de Tunde, é homenageada no soft rock estradeiro ILY (“diga-me amiga, que o fim não é o fim / e se o amanhã viesse e nos pegasse em uma mentira”).

ILY (“I love you”) é uma balada que talvez ninguém pudesse imaginar que Tunde faria em sua estreia solo, mas é igualmente uma faixa bem diferente em Thee black boltz, ainda que seja um disco de escolhas musicais variadas. A cara do álbum é uma espécie de tecnopop punk e desafiador, como no trip hop pesado de At the moon (quase uma música do Nine Inch Nails, mas com peso dosado e clima nerd), no Erasure antipop de Drop e no freestyle gótico de Blue.

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No fim do álbum, o hi-nrg ágil de Somebody new e a fusão Orchestral Manoeuvres In The Dark + afropop de Streetlight nuevo mostram que, mesmo nas faixas mais dançantes, Tunde não abre mão de surpreender — seja na produção, nas referências ou no modo como subverte expectativas. Mas tem bem mais do que isso no álbum. Pinstack, por exemplo é rock com cara 60’s, lembrando um tema grudento de alguma banda como Kinks ou Archies, mas levado para um lado mais texturizado.

The most volta ao tecnopop que marca o álbum, mas com discreta vibe reggae. God knows, uma canção bem amarga sobre um relacionamento pra lá de cagado, é um soul de piano, synth e violão que tem algo de Jimi Hendrix e Fleetwood Mac (e de Red Hot Chili Peppers, já que os vocais de Tunde lembram discretamente os de Anthony Kiedis).

Seja como for, a chave principal de Thee black boltz está logo no início do álbum, nas duas primeiras faixas. A música-título é uma espécie de oração espacial, com sinais eletrônicos e trechos como “thee black boltz (algo como “os raios negros”, só que estilizado) /aprendeu que a mudança é tudo / olhando para as estrelas”. Magnetic é uma peça de afrofuturismo, de new wave espacial, com algo de Errare humanum est, de Jorge Ben, na letra. Uma música que serve como manifesto do álbum: “eu estava pensando sobre a raça humana / na era da ternura e da raiva (…) / porque você é magnético, sintetizador incrível / você esteve para baixo, mas vai ficar mais alto”.

Thee black boltz, estreia solo de Tunde Adebimpe, é um álbum elaborado, mas ao mesmo tempo, simplificado. Como se fosse a redução mínima de um pop, para que ele possa ser compreendido em outros planetas, em outros tempos e civilizações.

Nota: 10
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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