Crítica
Ouvimos: Travis, “L.A. Times”
- L.A. Times é o décimo disco de estúdio da banda escocesa Travis. O disco foi produzido por Tony Hoffer (The Kooks, The Thrills, Beck, Supergrass) e é o segundo da banda a sair pela gravadora BMG.
- O disco é dedicado a um amigo do vocalista Fran Healy, Ringan Ledwidge, que morreu após lutar contra um câncer. A música Alive é dedicada a ele.
- Numa entrevista ao (olha só!) Los Angeles Times, Fran disse que o título é uma referência a um vendedor de jornais de sua terra natal, Glasgow (Escócia) e ao fato de ele hoje viver em Los Angeles. Disse também que percebeu efeitos ruins da fama em 2001, quando, numa conversa com sua mãe, percebeu que media as palavras como se ela fosse uma jornalista.
- O Travis hoje: Fran Healy (voz e guitarra base), Dougie Payne (baixo e backings), Andy Dunlop (guitarra solo, banjo e backings) e Neil Primrose (bateria, percussão).
No comecinho, o Travis chamava a atenção pela simplicidade – afinal que banda abriria seu primeiro álbum (Good feeling, 1997) com uma canção enraizada no glam rock, chamada All I wanna do is rock? Muito embora o segundo disco, The man who (1999), já tenha servido para fixar no imaginário coletivo o grupo de Fran Healy como uma banda introspectiva, melancólica, mais herdada do lado tristonho de David Bowie. E mais próxima de pares introvertidos (e às vezes meio barroco-progressivos) como Starsailor e Coldplay, todos filhotes mais novos do brit pop noventista, e integrantes de uma nova onda britânica que foi interpretada por muita gente como reação à crueza do rock norte-americano do fim da década.
O Travis de 2024 é um pouco de cada coisa. L.A. Times abre na simplicidade mais provável para uma banda conhecida por um hit como Why does it always rain on me?. Isso porque Bus, a primeira faixa, é uma balada sessentista que não faria feio na voz de Scott McKenzie ou de Johnny Winter – embora a letra seja contemplativa e desolada no estilo do Travis. Raze the bar, quem diria, é uma mescla de r&b atual com blues e gospel, levado adiante por vocal suingado, corais e bateria eletrônica – lembra por vezes um mini-U2, mas sem o derramamento emocional associado à banda irlandesa.
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Para quem só lembra do Travis dos anos 1990, o grupo fica mais reconhecível na terceira faixa, Live it all again, um pop barroco de violão cantado em falsete, mais a cara do Bee Gees nos primeiros anos do que de qualquer outra coisa. A estileira “roqueira” que o grupo sempre teve, ressurge em Gaslight, que lembra Kinks e T. Rex, e num country-blues bacana, Alive.
A segunda metade do disco é marcada por Home, outro rock funkeado e levado por beats eletrônicos discretos. E pela curiosa I hope that you spontaneously combust, uma música em que o Travis parece querer soar como Beck, unindo folk, psicodelia, melancolia brit pop e batidas dançantes (estas, discretas). Fecham o disco a ruidosa e épica The river (a melhor do álbum) e a faixa-título, um curioso misto de trilha de pornochanchada, psicodelia baggy e hip hop (!) que os fãs mais radicais da fase de The man who talvez desprezem – mas muitos vão querer ouvir várias vezes.
(Nas edições deluxe e na versão publicada nas plataformas digitais, L.A. Times encerra, na verdade, com versões “stripped”, sem maiores acréscimos de estúdio, da quatro faixas do álbum. The river, com letra falada, e transformada em vinheta, e a faixa-título em versão predominantemente acústica, são as melhores)
Nota: 8,5
Gravadora: BMG