Crítica

Ouvimos: Toro Y Moi, “Hole erth”

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  • Hole erth é o oitavo disco de Toro Y Moi, pseudônimo do músico, produtor e designer norte-americano Chazwick Bradley Bundick, ou Chaz Bear. O nome do disco, conta ele, foi inspirado pelos ares da Bay Area, na Califórnia, onde ele está morando, e pela descoberta da revista contracultural Whole earth, publicada em 1968.
  • “Lá é difícil não encontrar pistas da contracultura dos anos 60 e 70”, contou ao Man About Town. “Lembro-me de ter encontrado pela primeira vez um livro de Lloyd Kahn sobre estruturas residenciais autossustentáveis/feitas por você mesmo. Isso me fez descer a uma toca de coelho de livros semelhantes sobre estilo de vida boêmio. E isso me levou ao Whole earth“.
  • “Acho que na primeira audição, o ouvinte pode notar como este disco tem um pouco mais de pop e menos de som indie, mas acho que meus vocais são o que sempre tende a unir tudo”, define o disco.

Chaz Bear, o nome por trás do codinome Toro Y Moi, criou seu projeto musical com a ideia de inventar sempre um design musical interessante a cada disco, ou mesmo a cada faixa. Como locomotiva de estilos musicais que geralmente mudam de nome mas não mudam tanto assim de configuração – chillwave, hypnagogic pop etc – ele vem criando universos musicais que se atualizam a cada disco, e em que tudo soa como um local no qual você entra, e vai localizando influências, referências e detalhes.

Hole erth, o novo disco, soa mais como uma homenagem à galera que ficava, há alguns anos, criando grooves em casa com programas rudimentares, queimando CD-Rs e produzindo mixtapes para o MySpace ou o Soundcloud. Não é por acaso que o disco tem uma faixa chamada CD-R – cuja letra, rappeada-cantada sob uma base simples, fala sobre a época em que ele produzia seus próprios discos em casa, fazia turnês por conta própria, contava trocados e se comunicava com todo mundo pelo Blackberry. Um tom dominante de saudade da tecnologia de duas décadas atrás, que parecia ter vindo para solucionar os problemas de todo mundo e já está mais do que ultrapassada.

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O r&b psicodélico de Toro Y Moi soa quase sempre como se tivesse sido produzido num quarto, com toda a sujeira de uma produção realizada em casa, e aqui não é exceção. É o clima de Walking in the rain, do pop nu metal HOV, do batidão Tuesday, e até quando o clima ameaça virar de vez pro emocore eletrônico, em Reseda, e pro pós-punk oitentista revisitado, em Undercurrent (com participações de Porches e Don Toliver).

Uma curiosidade no disco é a desorientadora Starlink, mesmo nome do serviço fundado pelo milionário Elon Musk – uma estranha mescla de hip hop, emo e trip hop que tem mais a ver com vivências pessoais doidonas do que com o dia a dia de um ricaço mimado. Por acaso, Hole erth tem também o trip hop Madonna (“você é meu raio de luz/é minha Madonna”, entre outras referências nos versos) e uma história de desencontros com a tecnologia no emo r&b Hollywood, apresentando ruídos de conexão de internet discada, e investindo mais uma vez na crônica da tecnologia “antiga” de vinte anos atrás.

Nota: 8
Gravadora: Dead Oceans

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