Crítica

Ouvimos: Tony Visconti, “Apollo 80”

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Achar informações sobre Apollo 80, terceiro disco e álbum comemorativo (de 80 anos) de Tony Visconti é procurar uma agulha no palheiro. O produtor, músico e compositor, geralmente mais lembrado por ter trabalhado em álbuns de David Bowie, não o divulga nem mesmo em seu site oficial, e ainda não há reportagens sobre ele. Visconti recentemente lançou Produced by Tony Visconti, um valioso box de 4 CDs, com parte do material que produziu, e falou largamente sobre a caixinha, sobre Bowie e sobre sua história ao jornal The Guardian, há uns seis meses.

No papo, Tony garantiu que, mesmo tendo produzido cerca de 2 mil gravações e tendo percorrido um caminho que vai do folk psicodélico (com Tyrannossaurus Rex) ao jazz (com Esparanza Spalding), não existe um “som Tony Visconti” e que o principal de seu trabalho é garantir que o som, no disco, se pareça com as ideias originais do artista. Coisa raríssima em se tratando de um universo repleto de sujeitos controladores, algoritmos e times de produtores, mas Tony é de outro mundo, outro planeta, e opera mais como um construtor do que como um produtor de conteúdo.

Apollo 80 é um disco desses tempos. Tony, que mais recentemente vinha até mesmo se dedicando a tocar material de Bowie nos palcos da vida (com uma banda chamada Holy Holy, que toca o disco The man who sold the world inteiro, tendo o baterista Mick Woodmansey, que participou do álbum, na formação) fez com que seu terceiro disco atirasse para os vários lados pelos quais passou sua carreira, como músico e produtor. Abre o álbum com uma new wave zoada, Here’s a lick, lembrando um encontro espacial entre The Who e Pixies. Cai num rock funkeado, Politics, que lembra Bowie em Scary monsters (1980). Faz barulho num curioso funk rock progressivo, 54321, que lembra que, em dado momento, ele produziu Gentle Giant e Rick Wakeman.

Brave young Apollo, na sequência, é uma balada soul com dramaticidade equivalente a das baladas de Bowie nos anos 1980, além do tom espacial/experimental que o trabalho do cantor passou a ter nos anos 1990 e 2000 – e a letra parece recordar o amigo. Visconti recorda que trabalhou com Paul McCartney (fez as orquestrações do disco Band on the run) ao fazer uma balada romântica de tom beatle, I tuned her violin. Recebe um Lou Reed rápido em Ice cream truck. Traz mais dramaticidade herdada de Bowie na soturna If you really want to go. E faz power pop na onda do Big Star e do Badfinger em Cold october sun.

Mas para recordar David Bowie de vez, fique com o folk nostálgico de Haddon Hall, citando o cantor e sua ex esposa Angie e contando uma história aterrorizante e atraente ocorrida na mansão vitoriana (que dá titulo à faixa) alugada por Bowie nos anos 1970 – e dentro da qual o segundo ato de sua carreira foi tramado, com Visconti tendo participação ativa. Apollo 80 é um disco de memórias.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente.

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