Crítica
Ouvimos: Tigre Robô, “Telefone pra cachorro”
Muito do que está no primeiro disco do Tigre Robô, Telefone pra cachorro, confirma uma velha teoria nossa: bandas como Wire, The Fall e Public Image Ltd talvez sejam mesmo algumas das mais influentes da história. Com apenas onze faixas e nenhuma enrolação, o álbum da banda brasiliense mistura pós-punk de quarto com o experimentalismo lo-fi do Weatherday — como na abertura, Desconforto.
Há espaço também para uma mescla esperta de punk e rap, como em Atlas, com o excelente verso “como se dança com o mundo nas costas?”. A faixa remete a Akira S & As Garotas Que Erraram, e só não parece ainda mais com eles porque destaca uma guitarra — econômica, seca, honrando o pós-punk.
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O Tigre Robô, aliás, parece gostar de contrariar expectativas: Desperdício é punk de garagem que soa como o já citado Wire, ou como um Titãs alternativo, gravado na tora e meio bêbado. Definitivamente um indivíduo traz um baixo herdado da disco music (pense em Gang Of Four) e uma letra crua, com versos como “não sou uma ideia formada de certezas” e “nos fluidos pegajosos escorrem gosmentos os meus desejos”.
Carne de pescoço é blues rock ruidoso que remete à Patife Band – e que parece uma faixa gravada numa máquina de oito canais, em 1985, pronta para ser lançada num LP independente. Já Desconserto tem pegada power pop, melodia que flerta com os Beatles e uma vibe que, curiosamente, lembra o Blur dos primeiros discos.
Na salada sonora do Tigre Robô, ainda cabe Turismo, um punk com teclados e baixo em diálogo, na linha dos Stranglers. E uma pequena joia quase psicodélica: Todos seus amigos são supermodelos, que começa como se o Jefferson Airplane tivesse caído no punk e prossegue com solos de guitarra tomando o comando.
Nota: 9
Gravadora: Manga Rec
Lançamento: 20 de janeiro de 2025.