Crítica

Ouvimos: The Police, “Synchronicity – Super deluxe edition”

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Discos excelentes feitos enquanto a banda quebrava o pau no estúdio, nos bastidores de shows e em tudo quanto era lugar, existem vários. No caso do The Police, as brigas eram constantes e visíveis – diz a lenda que chegaram a terminar em atracamento físico, algumas vezes. E Synchronicity, de 1983, ainda teve a qualidade de ser, simultaneamente, o melhor disco e o último disco da banda.

Uma visão perfeita de como foi a elaboração de Synchronicity surge agora com o lançamento da edição super deluxe do disco, que já está nas plataformas digitais, com seis discos contendo demos, outtakes e até um show inteiro no Oakland-Alameda County Coliseum, na Califórnia, em 10 de setembro de 1983. Quem puser as mãos na edição física, vai ganhar ainda um livro de 60 páginas, assinado pelo jornalista musical Jason Draper, contando tudo sobre o disco.

Sobre o fim do grupo após seu ápice comercial e artístico, só quem não fazia a menor ideia do que rolava nas internas do trio poderia não desconfiar de que aquele álbum era a despedida. O processo criativo do álbum, basicamente, era o processo criativo do líder Sting. O cantor chegava com as demos prontas, deixando espaço suficiente para os integrantes apenas incluírem seus instrumentos no que o compositor já havia delineado. Nada muito diferente do que Pete Townshend fez diversas vezes no Who, mas isso deixava o guitarrista Andy Summers e o baterista Stewart Copeland provavelmente mais putos do que os companheiros de Pete em sua banda.

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O guitarrista e o baterista tinham direito a uma faixa-solo como autores em cada disco. Andy preferiu gastar sua cota com a esquisita Mother, inspirada em Captain Beefheart, berrada ao extremo, e parecida com um audiolivro de terror – mas que parecia fazer todo sentido, psicanaliticamente falando, num disco cuja raiz vinha da “teoria da sincronicidade” do psiquiatra Carl Jung. Nos discos adicionais, ela surge em versão alternativa e até instrumental, para o horror de quem costumava pular essa faixa no disco (não era meu caso, aviso). Stewart se deu melhor com o afrobeat Miss Gradenko, que soava como uma típica música da banda.

Synchronicity será eternamente lembrado, claro, pelo progressivismo atualizado das duas faixas título (a I e a II, que abriam cada lado do álbum). E mais do que tudo isso, por Every breath you take, uma canção sobre um relacionamento abusivo, que se tornou a canção mais executada de toda a história do rádio norte-americano – e também uma bizarríssima escolha de música para casamentos (!), mesmo que a letra tenha versos bem evidentes como “cada passo que você dá/eu estarei observando você”. King of pain e Wrapped around your finger também marcaram época e ajudaram o Police a se tornar uma das bandas mais populares e mais imitadas do mundo, numa época em que Sting já contava as horas para começar a pensar só na sua carreira solo.

Nos discos extras, qualquer fã sério/séria do Police tem que correr o mais rápido possível para os álbuns ao vivo, com releituras bastante potentes do repertório da banda, e não apenas das músicas novas. A seleção começa logo com as duas Synchronicity, parte para Walking in your footsteps (outra do disco novo) e cola nos hits, como Message in a bottle e Walking on the moon.

As demos e sobras são para fãs extremamente detalhistas: muita coisa enche o saco pela repetição e pela presença de versões instrumentais. Em compensação, há a lendária Every bomb you make, versão-paródia de Every breath you take feita para a comédia britânica Spitting images (dirigida por um time de cineastas), com versos anti-guerra como “cada bomba que você faz/cada trabalho que você assume/cada coração que você parte…/cada sepultura que você preenche”. No fim das contas, para quem nunca ouviu Synchronicity, é a chance de descobrir um clássico. Quem conhece bem o disco, vai redescobrir e esgotar o assunto.

Nota: 9
Gravadora: Universal Music

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