Crítica

Ouvimos: The Big Moon, “Here is everything”

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  • The Big Moon é uma banda indie de Londres, formada em 2014 e que tem quatro mulheres na formação: Juliette Jackson (voz, guitarra, principal compositora), Soph Nathan (guitarra, vocais), Celia Archer (baixo, vocais) e Fern Ford (bateria). A banda grava pelo selo que lançou o The Cure (Fiction).
  • Here is everything é o quarto disco delas e, diz o New Musical Express, é “em grande parte um documento da jornada da vocalista durante a gravidez”. Juliette (que aparece grávida na capa) compôs sete das onze faixas antes de dar à luz, e as outras foram feitas seis meses depois, num período em que, diz a cantora, “eu estava tão cansada e exausta, hormonal e apenas amamentando como uma louca, que simplesmente não conseguia acreditar que faria algo criativo novamente ou que faria algo que valesse a pena”.
  • A pandemia quase matou o Big Moon. “Parecia que o mundo havia acabado. Fern e eu pensamos uma coisa muito parecida: ‘Vamos conseguir outros empregos ou fazer outras coisas porque não podemos confiar mais nisso”, disse Celia ao NME.

Fugindo de uma tendência que tenho seguido aqui nas críticas do Pop Fantasma (a de dar discos sempre mais ou menos próximo das datas de lançamento), acho que vale falar do novo disco da banda indie britânica The Big Moon, cujo lançamento já aconteceu tem um tempinho – foi em 14 de outubro de 2022. Donas de uma discografia bem legal, Juliette Jackson, Soph Nathan, Celia Archer e Fern Ford haviam lançado um disco excelente em janeiro de 2020, Walking like we do, que chegou ao Top 20 no Reino Unido mas praticamente não foi comentado no Brasil. Para quem observava de longe, ficou a impressão de que a pandemia havia encoberto a beleza de canções como Your light e Barcelona. No Reino Unido, o grupo não para, com shows em festivais agendados para os próximos meses.

Here is everything é um disco positivo, de mudança – primeiro disco após a pandemia, primeiro álbum após Juliette ter um bebê. O som do Big Moon já é naturalmente sereno, mas o novo álbum continua em bases até bem mais tranquilas que a do disco anterior. Como nos riffs de violão de This love, hino da busca de espaços particulares em meio a incertezas numa das eras mais bizarras da história da humanidade (“quando a vida se torna líquida/algumas coisas que eu sei são imóveis”). Ou na estrutura de hino do single Wide eyes, lembrando Patti Smith nos anos 1980. Ou em Suckerpunch, country com letra soando como um Ouro de tolo indie, falando sobre como é se adaptar ao mundo do trabalho e detestar isso. E fazendo referência à ansiedade nossa do dia a dia (“você está esperando pelo futuro/como um coelho em um chapéu/mas quando o velho mágico faz seu truque/ele tem um ataque cardíaco”).

No geral, o som do Big Moon é “dançante” e ritmado, como geralmente as bandas herdeiras do pós-punk são – com sons de guitarra, violão e baixo costurados em meio a batidas eficientes e simplificadas. O design sonoro tem muito de Lou Reed e do Velvet Underground com Nico. E também muito de Television, de Patti Smith, de Cocteau Twins e de girl-groups sessentistas, na melancolia e no tom “mágico” dos arranjos, como na bela Ladye bay. Há também muito de EDM na construção dos, tanto que os refrãos e as gravações de vocais dão certo tom familiar para quem tem um gosto musical mais pop (a excelente Trouble poderia estar num jingle de operadora telefônica). Mas elas deixam entrar até um clima John & Yoko na esperançosa e meditativa High and low, de versos como “eu estive procurando por um deus/com palavras para emprestar/eu recitaria algum tipo de oração/e murmuraria o fim”.

No final, a beleza de Satellites, combinando um baixo-bateria que lembra Pixies com piano e vocais celestiais, além de questionamentos existenciais pesados no pós-gravidez. “Grávida no começo, mas pesada no fim/eu quase posso ouvir a ponte levadiça chegando na minha independência/eu não posso mais ser egoísta como eu quero ser”, num clima de “magia perdida” da vida, que há muito não se via no pop-rock.

Gravadora: Fiction
Nota: 9

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