Crítica
Ouvimos: The Armed, “Perfect saviors”
- Vindo de Detroit, o The Armed é uma banda de formação variável, pela qual já passaram supostamente mais de cem músicos. Perfect saviors é o quinto álbum do grupo.
- A ideia era que o principal fosse a banda, não os músicos. Atualmente, o Armed parece ter um formação um tantinho mais fixa, com Tony Wolski (vocal), Kenny Szymanski (baixo), Urian Hackney (bateria), Cara Drolshagen (vocal), Randall Lee (guitarra/vocal) e Patrick Shiroishi (sax/teclados) tendo, pelo menos, papel preponderante. Wolski diz que o anonimato foi parando de funcionar a favor da banda.
- Iggy Pop participou do lançamento do primeiro single, Sport of form, aparecendo num outdoor e no clipe da faixa.
Tem alguma coisa estranha no front do The Armed. Aliás, várias coisas. Aquele grupo-multidão formado por vários músicos e por nenhum ao mesmo tempo, que era um prodígio do ruído, e que não parecia fazer discos para tocar no rádio, decidiu mudar, e se tornou mais um grupo estranho e melódico do que apropriadamente um grupo barulhento, como era antes.
Perfect saviors, o novo álbum, é uma evolução que já era pedra cantada: de disco em disco, o Armed foi pulando da barulheira sem aviso prévio para o som ruidoso e quase matemático de Ultrapop (2021), o álbum anterior. A faixa de abertura, Sport of measure, demora até que a parede de guitarras comece, e tem um tom melódico que se aproxima de um U2 mais alternativo. O som do disco prossegue numa onda entre o pós-hardcore gritado, uns toques de pós-punk (em vocais e riffs de guitarra) e, vá lá, vontade de não incomodar quem curte estilos musicais como emo e metal alternativo – ambos encontram-se no blues hardcore de Modern vanity, uma das melhores do álbum.
Não parece que o Armed tenha um ideal de rádio na cabeça. Numa FM imaginária, é tranquilo de imaginar a execução de músicas como Everything’s glitter, Vatican under construction e o eletro indie rock Liar 2 (essa última na cola do Nine Inch Nails do álbum With teeth), mas vale afirmar que dessa vez a banda se esmerou em mostrar que pode compor músicas bonitas – ou pelo menos com um grau de “beleza” que pode destacar algumas faixas.
Falando nisso, no final de Perfect saviors, as duas maiores belezas do disco: a balada dream pop In heaven, e a variedade musical de Public grieving, puro mistério levado adiante por uma estranha mescla de jazz (o baixo e o piano são maravilhosos) e psicodelia. O tipo de som que só pode ser feito por artistas que procuram realmente mostrar algo novo.
Gravadora: Sargent House
Nota: 8
Foto: Reprodução da capa do álbum