Crítica

Ouvimos: Swans, “The beggar”

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  • Surgido em 1982 em Nova York e criado pelo cantor, compositor e músico Michael Gira, o Swans é uma rara banda da no wave (movimento de contestação à comercialização do punk) a se manter por várias décadas (embora tenha parado de 1997 a 2010) e a continuar gravando. The beggar é o décimo-sexto disco do grupo.
  • A formação da banda sempre foi mutante – e vale dizer, Michael nunca foi considerado um líder estável. Atualmente o grupo tem ele (voz, letras, violão eletroacústico), Kristof Hahn (guitarra, voz), Larry Mullins (bateria, percussão de orquestra e mellotron), Dana Schechter (baixo, guitarra, teclado), Christopher Pravdica (baixo, teclados) e Phil Puleo (bateria, sopros exóticos). Jennifer Gira, esposa de Michael, e a cantora alemã Laura Carbone fazem vocais.
  • O disco é mais um lançamento do selo do grupo, Young God, criado em 1990. O nome do selo surgiu de um EP de 1984, e evidentemente, a banda Young Gods também se inspirou no disco.
  • The beggar foi financiado por um disco anterior, o acústico Is there really a mind, lançado em 2022, e que já tinha algumas canções do novo álbum em versões rudimentares.

Ouça com calma, tempo e disposição, mas com a certeza de que a banda experimental Swans quis facilitar sua vida: The beggar, novo disco deles, tem duas horas de duração, uma faixa de quase 45 minutos, The beggar love (Three), e segue o esquema conhecido de canções frias, enormes, quase faladas e um tanto repetitivas, com letras bastante cruas. Parasite, a faixa de abertura, tem versos como “respire minha respiração em sua cabeça/justo, puro e azedo com a morte/aqui estou eu, apenas uma pele vazia/não há saída, não há como entrar”.

O grupo liderado pelo imprevisível Michael Gira retorna, pelo menos no começo do álbum novo, um pouco menos assustador que em discos mais antigos. O som de The beggar até a metade é meio mântrico, meio psicodélico, em faixas como Paradise is mine e Los Angeles: City of death. O mesmo acontece até numa estranha cantiga sobre finitude, Michael is done, com vocais feitos por Michael e pela esposa Jeniffer. A música, ainda assim, ganha um aspecto quase vertiginoso no final, com sons de teclados e efeitos concorrendo pela atenção do ouvinte.

Unforming, com seus quase seis minutos, é quase um lamento de relaxamento, se é que isso é possível – tem clima “espacial”, violões e piano, mas a letra narra uma metamorfose pessoal descrita de maneira bem fria (“só de pensar que estou aqui, logo vou desaparecer/quem se importa e quem sabe onde eu estive ou irei?/meu verdadeiro nome foi escrito na água e na neve/e essa foi a hora de deixar tudo ir”).

O jogo parece virar na faixa-título, um pesadelinho de dez minutos, poucas notas, e letra lida como uma oração sombria – encerrado por gritos, guitarras e peso. No more of this, praticamente uma canção sacra influenciada por Lou Reed (e que lembra Sad song, do disco Berlin, de Lou) entrega que The beggar é um disco de despedida, par ser ouvido à luz das perdas dos últimos anos: “Adeus, amantes, adeus amigos/adeus, filha, adeus, filhos/rezo ao céu para que vocês existam/dentro de uma nuvem de névoa curativa”. E o disco prossegue no clima funéreo e aterrador de Why can’t I have what I want any time that I want?.

Já a tal canção de mais de 40 minutos, The beggar love (Three), por acaso não incluída na versão em vinil, mistura momentos diferentes, cabendo desde falas da filha pequena de Michael e Jennifer, até tramas acústicas e percussivas, em meio a climas apocalípticos.

Gravadora: Young God
Nota: 7

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