Crítica

Ouvimos: Stereolab, “Instant holograms on metal film”

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RESENHA: Stereolab retorna com Instant holograms on metal film, disco visionário que mistura krautrock, bossa, soft rock e crítica social futurista.

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Primeiro álbum do Stereolab desde 2010, Instant holograms on metal film só é inacreditável para quem não conhece esse grupo franco-britânico – que já tirou onda de profetas musicais do futuro, e hoje vê muita coisa imaginada por eles virar quase moda. O mundo conforme pensado pelo Stereolab em discos como a estreia Peng! (1992) era uma mescla de carros voadores e móveis estilosos dos anos 1960 – ou de homens com visual mod e mulheres de cabelo curto à Mia Farrow falando no celular e navegando na internet.

Era também uma mescla de influências que parecia encontrar o que havia de mais retrô no que havia de mais moderno, ou o contrário. O fato é que, em 2025, Lætitia Sadier e Timothy Gane podem só relaxar e zoar num universo imaginário em que computadores transmitem imagens falhadas de antigos VHS, e fitas K7 servem como portais para um novo mundo. Como no chacundum espacial de Aerial troubles, com vocais doces e melódicos e qualquer coisa que você ouviu em discos de bandas como Neu! e de produtores-artistas como Brian Eno.

É o que também rola na ensolarada e tecnológica Melodie is a wound, que durante boa parte de seus sete minutos é um soft rock. Só que misturado com detalhes de krautrock, e com uma letra que aponta o dedo para o cultivo ao ódio e à ignorância – com direito a teclados em clima de interferência no final. Climas quase progressivos tomam conta de Immortal hands, música na qual os vocais de Lætitia soam como os de Nico ou os de Yoko Ono. E Vermone F transistor opera no bom e velho cruzamento entre pop francês, bossa nova e rock sixties, típico do Stereolab.

Com uma hora de duração, Instant holograms vai para vários lados sem cansar, cabendo o pós-punk mágico e celestial – com batidinha quase tecnobrega – de Le coeur et la force, o Pink Floyd produzido por Giorgio Moroder de Electrified teenybop, a bossa eletrônica e espacial de Transmuted matter e o indie vintage de Esemplastic creeping eruption, música em que os instrumentos parecem falar, e em que o clima lembra o dos antigos discos de orquestras gravados no Brasil (como as pérolas da Orquestra Briamonte, nos anos 1960, que tinham tom futurista e elegante).

Entre climas viajantes e sombrios no final, o Stereolab vai do tecnopop de salão às experimentações eletrônicas nas duas partes de If you remember I forgot how to dream. Ambas são músicas com cara de sonho acordado, assim como o pop cheio de surpresas de Colour television. Uma música que, por causa do título, soa como o futuro visto do passado – mas cuja letra descortina uma distopia em que “toda a riqueza pode ser acumulada” e “os mesmos lideram, os outros ficam pra trás”. Um grupo visionário como sempre.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Duophonic / UHFWarp
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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