Crítica
Ouvimos: Star 99, “Gaman”
O termo japonês gaman remete ao zen-budismo e significa “suportar o aparentemente insuportável com paciência e dignidade”. Quem precisa dar uma tradução hiper-rápida costuma defini-lo como “perseverança”, “paciência” ou “tolerância”. É uma palavra que está relacionada ao fazer o melhor em tempos complexos. E é o nome do segundo álbum do grupo punk-pop californiano Star 99, servindo como uma chave de compreensão para as letras da banda, que oscilam entre o sarcasmo, a auto-ironia e a resignação.
O som da banda também tem lá suas oscilações. É punk-pop, mas também é indie rock anos 2000 (Kill), power pop ramônico (Simulator), som herdado de Weezer (Emails), um misto de power pop com shoegaze (Esta e IWLYG). Também promove uma feliz aproximação com o indie pop, em Gray wall, com programação eletrônica. E constroi um punk-de-voz-e-violão com linhas vocais orientais – justamente na faixa-título, repleta de encontros e desecontros, e que encerra o ciclo com a mesma frase da primeira faixa do álbum, Kill (“vou voltar de bicicleta pela colina/você não vai saber onde eu estive”).
Entre canções, confissões e indignações (que preenchem boa parte do álbum, até mesmo nas canções de amor), destacam-se as ótimas melodias, a voz doce da cantora Saoirse Alejandro, as guitarras fantásticas da faixa Pushing daisies, e a certeza de que o som do Star 99 comunica-se o tempo todo com as dúvidas existenciais e o partir-ou-ficar que existe em pessoas dos 0 aos 100 anos. Gaman é, afinal, um título apropriado para um disco que transforma incertezas e contradições em música.
Nota: 8
Gravadora: Lauren Records
Lançamento: 7 de março de 2025.
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