Crítica

Ouvimos: Sprints, “Letter to self”

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  • Letter to self é o primeiro álbum da banda irlandesa Sprints, formada pela guitarrista, compositora e vocalista Karla Chubbs, o guitarrista Colm O’Reilly, o baterista Jack Callan e o baixista Sam McCann.
  • Após assistir a um show da banda britânica Savages, Karla reformulou seu modo de escrever e o Sprints encontrou sua cara própria. “Sempre adorei música alimentada pela raiva, mas caí na armadilha de escrever o que parecia menos ofensivo. Simplesmente porque via a raiva como uma emoção negativa, em vez de algo que pode ser terapêutico e catártico. Decidi que realmente não me importo como sou interpretada – vou apenas escrever exatamente o que sinto”, contou.
  • O disco foi gravado em doze dias, e o título surgiu porque Karla queria colocar todos os sentimentos, traumas e ansiedades no papel. “Houve muita vergonha na minha vida, então eu queria que o título fosse o mais honesto e direto possível”, diz.

Vinda de Dublin, Sprints é definida como “pós-punk”, e a nomenclatura faz sentido. Só que o grupo lembra bastante um Babes In Toyland pouca coisa menos barulhento, um retorno ao grunge com uma certa cara new wave. O som do grupo tem aquele lado meio trevoso do rock dos anos 1990, de emoções sendo postas para fora rapidamente em letras, vocais e melodias. Tanto que temas como ansiedade, medo e traumas diversos aparecem volta e meia nas canções dos Sprints.

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O Sprints não chamou o primeiro álbum de “carta para si mesmo” à toa. O conceito do disco é encerrado na faixa-título, que fecha o álbum unindo peso matemático herdado de Helmet e Killing Joke, e os tradicionais vocais falados da cantora, compositora e guitarrista Karla Chubb. Na letra, a descrição em pormenores um relacionamento pra lá de abusivo. “Eu te dei tudo, meu sangue, suor, esperança e lágrimas/você pegou minhas esperanças e as sufocou em medos”.

Até aí, o disco soa bastante conceitual, tratando basicamente de terror psicológico ou físico, em família ou não – com letras bem diretas. Soam muito bem na caixa de som as tentativas de unir distorção e new wave em Ticking e Heavy. Ou o punk com climas tribais e misteriosos de Shadow of a doubt (“há um choro urgente em minha cabeça/e eu estou perdida/eu posso ouvi-la em meu sono”). Ou o tom pós-Siouxsie and The Banshees da cigana Can’t get enough of it e de Cathedral. Ou o punk com palhetadas de baixo herdadas do Joy Division de A wreck (a mess). Ou o retrato do machismo do dia a dia em Adore adore adore (“eles nunca me chamaram de linda/só me chamaram de louca”), curiosamente com palhetadas herdadas da libertária Territorial pissings, do Nirvana.

Tem também Shaking their hands, um quase-momento de tranquilidade no disco, com violões e vocais serenos, até que a canção ganha uma parede de guitarras. Na letra, a personagem escapa de “uma longa noite, um longo dia, uma longa vida”. E um pouco de esperança invade o clima pesado da boa estreia dos Sprints.

Nota: 7,5
Gravadora: City Slang.

Foto: Reprodução da capa do álbum.

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