Crítica

Ouvimos: Skinner, “New wave vaudeville”

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Certo: dá para ver no som do irlandês Skinner bons ecos da mania de indie sleaze (sons dançantes, provocativos e pesados) que vem vindo da vizinha Inglaterra. No álbum de estreia New wave vaudeville, esse tom surge de vez em quando e domina pelo menos uma faixa, Geek love, cuja letra é uma espécie de declaração de princípios, com versos como: “o médico diz que você está quebrado/a TV diz que você é estranho/e a mídia está dizendo para você cavar sua cova/ (…) você tem que assustar a cena/ (…) opiniões organizadas em um saco plástico/porque ninguém aqui quer ser um esquisito”.

Convém informar que o lance aqui é (bem) outro: Aaron Corcoran (nome verdadeiro do rapaz) é o último grito da no wave, aquele estilo experimental feito por James Chance e Lydia Lunch (e Arto Linsday) para zoar o punk setentista. Sim, e com direito a berros, guitarras explosivas, batidas pesadíssimas e a um saxofone que serve mais como provocação do que como luxo musical.

Dá para aproximar Skinner também da onda funk-punk dos anos 1970 (Gang Of Four, por exemplo), ou de sons malucos como Devo. Mas o som dele é mais mal-humorado ainda, com sax, guitarra e percussão em desalinho na sacolejante faixa-título, caos punk berrado em Tell my ma, e som de lixa em When you live in a shoe. A curiosidade aqui é o encerramento do álbum com Here comes the rain, um canção “sombria” que lembra mais o pop adulto nacional dos anos 1980, tipo Lobão ou Kiko Zambianchi.

New wave vaudeville também chega perto do lado “new wave” do Nirvana em faixas como Sour milk, e dá um inacreditável banho de distorção em guitarra e baixo no hard rock punk Calling in sick – que lembra um David Bowie puto da vida, ou um filhote dele e de Iggy Pop. Não faltam provocações nas letras e Jesus wore drag é a mais direta delas, falando sobre um Jesus Cristo drag queen que jamais seria aceito pelo catolicismo (“olha só o que ser eu mesmo me custou/morrendo por seus pecados/e mentindo por dentro/para tentar manter meu segredo na bolsa/porque Jesus Cristo não pode ser visto vestido de mulher”). Sim, Skinner pode virar mania e liderar outro movimento, mais moleque que o de Brat, e mais reflexivo e provocativo.

Nota: 9
Gravadora: Faction Records
Lançamento: 10 de janeiro de 2025.

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