Crítica

Ouvimos: Sigur Rós, “ÁTTA”

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  • ÁTTA é o oitavo álbum da banda islandesa Sigur Rós, hoje formada por Jón Þór “Jónsi” Birgisson (voz, guitarras, teclados, baixo, gaita, banjo), Georg “Goggi” Hólm (baixo, glockenspiel, toy piano, teclado, backing vocals e Kjartan “Kjarri” Sveinsson (sintetizadores, teclados, piano, órgão, programação, guitarras, flauta, apito, oboé, banjo, backing vocals).
  • É o primeiro álbum de estúdio em dez anos (descontando-se o colaborativo Odin’s raven magic, gravado em 2004 e lançado em 2020), e é o primeiro desde Valtari (2012) a apresentar o tecladista Sveinsson, que voltou à banda no ano passado. E é um disco que a banda vê como “mais introvertido” que os discos anteriores, com cordas que parecem “expansivas”, mas funcionam para dentro.
  • O Sigur Rós tem enfrentando problemas bem complexos. O baterista Orri Páll Dýrason deixou o grupo em 2018 após ter sido acusado de agredir uma fã. Em 2019 a banda foi acusada de evasão fiscal, por causa de umas declarações fiscais que não batiam – entre idas e vindas o caso só se encerrou em março.
  • O primeiro single, Blóðberg, ganhou um clipe dirigido por Johan Renck, que mostra várias paisagens desérticas, e revela detalhes como os corpos (e carcaças, talvez) pelo chão, que vão se multiplicando, como num futuro distópico e aterrador.

Sigur Rós não é música para ouvir rápido (a título de informação: fizemos duas audições de Atta antes de fazer essa resenha, e uma delas foi feita num raro estado de desligamento total do mundo). Mais que isso: é um tipo de música que deixa mais perguntas na cabeça dos ouvintes do que respostas. Seja pelo instrumental denso e, por vezes, meditativo, seja pelo fato de que há poucos instrumentos reconhecíveis atualmente na música do Sigur Rós (“isso é teclado? isso é uma guitarra? isso é uma orquestra?”, você pode se perguntar). Bem mais do que acontecia, por exemplo, em álbuns como o clássico Ágaetis byrjun, de 1999, com orquestras unidas a guitarras e a uma discreta bateria.

O som do grupo islandês em ÁTTA tem facetas indistinguíveis. Consegue ser elaborado e minimalista simultaneamente, é mais conduzido por climas que por batidas, e tem um ar de transmissão de rádio, na qual vários cenários musicais diferentes concorrem pela atenção do ouvinte. Está longe de poder ser considerado um som “progressivo”, porque tem sujeira demais para isso – a denominação post-rock sempre foi melhor, até por já trazer embarcada uma negação do rock comum, em prol de texturas musicais que negam sete décadas de música em torno de guitarra-baixo-bateria-teclados.

O arco-íris incinerado na capa de ÁTTA (“oito”, em islandês, e é o oitavo álbum da banda) dá uma ideia de final de esperanças, de um tesouro que nunca mais poderá ser encontrado – de certa forma põe o disco no radar dos inventários da pandemia que andam saindo em formato de álbum ou single. Mesmo que isso não seja informado ao ouvinte, e mesmo que talvez não dê para usar o termo “conceitual”, parece haver algo amarrando as dez faixas. Blóðberg, single do disco, vai crescendo na frente do ouvinte, assim como o clipe da faixa (um deserto distópico de nove minutos) vai se agigantando diante do espectador. Uma música que dá a ÁTTA um certo ar de trilha sonora de filme que nunca existiu – algo que pode ser dito inclusive de vários outros lançamentos do Sigur Rós.

Klettur é o lado “pesado” do disco, com batidas ritmadas como a de um coração, e clima denso. Andrá soa como o lado quiet-loud do indie rock levado para o som tranquilo do grupo, dando um diferencial a um disco repleto de faixas que soam como trens passando – silêncio e expectativa no início, volume aumentando do começo para a metade, como em Gold e Skel. Parece que a sensação de que o fim está próximo, e que tudo passa rápido.

Gravadora: Von Dur/BMG
Nota: 8

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