Crítica

Ouvimos: Shellac, “To all trains”

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  • To all trains é o sexto álbum do Shellac, cuja formação no disco era a de sempre: Steve Albini (voz, guitarra), Todd Trainer (voz, bateria) e Bob Weston (voz, baixo). Albini morreu aos 61 anos em 7 de maio do ano passado, deixando o disco pronto.
  • O grupo continua sem ele? “A banda continuará a fazer shows ou turnês no mesmo ritmo esporádico e relaxado de sempre. Não há correlação entre shows e lançamentos de discos”, avisaram no Bandcamp.
  • O disco foi mostrado aos fãs numa festa de audição no festival Primavera Sound, no ano passado – e justamente no horário em que o Shellac estava agendado para tocar.

Disco “póstumo” do Shellac, lançado alguns meses após a morte do vocalista e guitarrista (e grande produtor) Steve Albini, To all trains termina ironicamente com a faixa I don’t fear hell (“não tenho medo do inferno”). Uma grungeira em estado puro, que lembra um Alice Cooper convertido ao som de Seattle. Ou um desdobre de Bleach, estreia do Nirvana (1989), encerrando com uma bela esticada de guitarra e baixo que transforma essa faixa na maior do álbum.

A música soa como uma despedida não-intencional, assim como To all trains tem cara de carta de intenções musical – é, talvez, o disco mais coeso do grupo de Steve, Bob Weston e Todd Trainer, um exemplo de rebeldia musical encapsulada, com direito a solos de guitarra simplificados, baixo e bateria crus, vocais quase sempre ríspidos. O disco tem um lado stoner forte em faixas como WSOD, Girl from outside (sustentada, como acontece em todo o álbum, em riffs curtos e completos) e o quase blues Tattoos (cuja estrutura vem de um riff circular que costura a faixa).

O som do Shellac provavelmente foi criado pela banda numa espécie de tela em branco. Mas dá para achar muita coisa legal escondida ali, incluindo referências de Wire (em How I wrote how I wrote Elastic Man, que cita a música quase homônima do The Fall), Black Sabbath/Black Flag (Wednesday) e até o Pink Floyd da era inicial (Scrabby the rat tem algo que lembra Lucifer Sam, do primeiro álbum da banda britânica). Chick new wave é o lado mais anfetamínico do disco.

Duas grandes surpresas do disco são o punk ligeiramente funkeado de Days are dogs e a pauleira, unindo hard rock e punk, de Scrappers, cuja letra conta a história de um filho que convidou o pai para virar pirata (“papai, você largou seu emprego?/socou o homem que disse essas coisas?/vendeu o carro, comprou um caminhão e começou o negócio de sucata?”). E como produtor, Albini deixou sua marca na ambiência das faixas e no clima meio ameaçador do álbum, mesmo nos momentos mais calmos.

Nota: 8,5
Gravadora: Touch And Go.
Lançamento: 17 de maio de 2024.

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