Crítica
Ouvimos: Samuel Rosa, “Rosa”
- Rosa é o primeiro disco solo de Samuel Rosa, ex-cantor e principal compositor do Skank. O disco foi produzido por ele e Renato Cipriano. Na capa, há uma pintura de Stephan Doitschinoff, que faz referência a várias músicas do disco.
- A banda solo de Samuel é formada por Doca Rolim (violão e guitarra), Alexandre Mourão (contrabaixo), Pedro Kremer (teclados) e Marcelo Dai (bateria e percussão). Alexandre é amigo de infância de Samuel e tocou com ele no Pouso Alto, grupo que ele teve com outro ex-Skank, Henrique Portugal, nos anos 1980.
- No material de divulgação, Samuel diz não ter procurado se diferenciar do legado que o Skank deixou. “Eu não queria agora buscar compulsivamente fazer algo que eu nunca fiz. Quero exercer o que eu sou”, afirma Samuel Rosa. “Minha marca é meu patrimônio”.
- Boa parte do material foi feita entre janeiro e fevereiro, em sessões matinais que duravam de três a quatro horas (e que Samuel chama de “composição induzida”). “Era disciplina mesmo, eu me comprometi a chegar todos os dias com uma música nova de tarde e mostrar para banda, ainda que fosse ruim, boa, média, sem julgamentos”, conta ele.
Eu (eu, Ricardo Schott, autor desse texto), esperava que a estreia de Samuel Rosa como solista corresse para dois lados distintos. A partir da capa, que lembra a de discos de Jorge Ben como A tábua de esmeralda e Solta o pavão, cheguei a pensar que o ex-Skank fosse cair dentro da experimentação rítmica que marcou discos do grupo, como O samba Poconé, ainda que sob um viés 2024. O outro lado: Samuel voltaria com cara beatle, unindo as mesmas influências e referências de Paul McCartney e Wings que marcaram sucessos de sua ex-banda, como Mandrake e os cubanos, Amores imperfeitos, Vou deixar e Mil acasos (e eu esperava mais ainda por isso).
Pois bem: Samuel voltou com um disco de MPB-pop. Ou de pop adulto contemporâneo com uma ou outra influência de rock dos anos 1960 e MPB das antigas. É o que – analisando bem – era mais provável que fosse acontecer, e era o que já dava para vislumbrar pelo single Segue o jogo.
Se tinha um lado do Skank que seria lembrado num eventual disco solo dele, seria o mais tranquilo: o de músicas como Balada do amor inabalável e Resposta. Por outro lado, falta uma pérola MPBística-rock-pop como Dois rios no disco. Os achados do álbum são bossas pop como Não tenha dó (essa, lembrando BASTANTE a Balada), Bela amiga (a faixa mais bonita do disco) e Segue o jogo, além do britpop anos 2020 Rio dentro do mar, e da disco music discreta de Flores da rua. Uma pista: segundo matéria do O Globo, uma playlist com bandas como Shins e Wilco rolou na época da elaboração do álbum.
Curiosamente, Rosa abre com duas canções que soam familiares para fãs antigos do Skank: o reggae folk Me dê você e o reggae brasileiríssimo Ciranda seca (Dinorah). A já citada Não tenha dó, por sua vez, ganha uma continuação na valsa-pop Aquela hora – parceria com Rodrigo Leão, e a música do disco que mais transparece influências de Lô Borges. Marcada por um pianinho suingado e de poucas notas na abertura, Tudo agora, por sua vez, parece uma sobra de discos mais recentes do Skank, como Velocia (2014).
No fim das contas, é um disco que reúne várias caras diferentes de sua ex-banda, e nem poderia ser diferente no caso de um grupo no qual o próprio Samuel era o maior arquiteto sonoro. Faz falta uma certa esquisitice (no bom sentido) que o Skank tinha, até mesmo quando estourava músicas em trilhas de novela ou levantava multidões.
Nota: 7
Gravadora: Sony