Crítica
Ouvimos: Rés, “Peba”
Artista não-binário de São Paulo, Rés Cruzatto tem, com o álbum Peba, a possibilidade de mostrar um outro lado da linguagem musical lo-fi. É uma MPB experimental gravada em casa, com efeitos musicais, experimentações e um cuidado sonoro que não deixa nada a dever para a música feita em grandes estúdios.
Apostando numa sonoridade meio MPB, meio folk, Rés soa como uma mistura exata de Sergio Sampaio e Jeff Buckley, com as mesmas dimensões de “maldição” musical e trato vocal. Abre o disco com um samba-funk tocado no violão, Reviravolta, com palmas em tom de samba de roda, e letra cantada como se fosse um dialeto. A faixa-título, por sua vez, é samba nordestino com pandeirada carioca, synths dando um aspecto mágico e cordas que dão um ar pop-MPB. Elementar é uma seresta que se transforma em samba, e É ou não é parece unir Chico Buarque e Jards Macalé em uma vibe musical malandra.
Um “lado B” de Peba aparece dividido por uma vinheta de Assum preto, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cantada a cappella pela cantora baiana Bruna Luz, apenas com um barulho de mata no fundo – você consegue imaginar o verde, os cheiros e as sensações. A sequência de faixas passeia pelo folk de arquitetura clássica e hispânica (Possessão), pelo dream folk das matas (na releitura de Piedra e camino, de Atahualpa Yupanqui), pelo som afro-cigano (Harakiri) e pelo samba mórbido (Morte é paz, escrita por Paulo Vanzolini). Um disco de MPB inquietante, perturbadora – costurado como um autêntico quebra-cabeças sonoro.
Nota: 8,5
Gravadora: Hominis Canidae REC
Lançamento: 5 de fevereiro de 2025.
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