Crítica
Ouvimos: Raça, “27”
- 27 é o quarto álbum da banda paulistana Raça, formada por Novato Calmon (baixo e voz), Popoto Martins (guitarra e voz), Thiago Barros (bateria), João Viegas (sintetizador, voz) e Santiago Obejero Paz (guitarra e voz). O disco foi produzido pelos integrantes ao lado de Roberto Kramer.
- Gab Ferreira, Dadá Joãozinho, Marina Nemesio, Maurício Takara, Carlos Dias (Polara) e Gak Go (King Krule) participam do álbum.
- O conceito de 27 foi montado em conjunto com o artista plástico e tatuador Lucas Peixe, cuja pesquisa acadêmica sobre pipas e tatuagens ajudou a nortear as canções – ele também assina a capa do disco. A banda conta que o novo material surge inspirado pelas pesquisas musicais na área da MPB dos anos 1970.
- “Durante a pandemia, me distanciei do rolê de banda. Não fiquei pensando em fazer live, escrever disco nem nada. Comecei a escutar bastante voz e violão, canções que emocionam, são atemporais, podem ter várias roupagens diferentes, interpretações. Pela primeira vez me apaixonei por música e não pelo rolê”, conta Popoto.
Surgido, de certa forma, de uma reação ao que rolava ao seu redor (a banda recorda estar cercada, no começo, de formações de hardcore), o Raça se notabilizou desde seu início por uma sonoridade sensível, e mais voltada para uma mescla de rock e balanço. Um indie pop feito com cuidado, com referências brasileiras, e não apenas com vontade de soar britânico ou norte-americano. 27, o novo disco, aprofunda essa receita em 14 faixas curtas (o álbum tem pouco mais de meia hora). E que fazem com que, apesar do sotaque paulistano, o Raça soe cada vez mais carioca.
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Entre momentos psicodélicos e neo-psicodélicos, além de referências de pós-punk e dream pop oitentista (que ainda formam o básico do som do grupo), pulam lembranças de sons de Marcos Valle (Conserta, Esse sonho), Lulu Santos (Amizade), Jorge Ben (Se ama) e algo mais próximo do samba lounge (Expectativa e a quase falada Gana). Já Que besteira, que abre com intervenções vocais lembrando Rita Lee e Roberto de Carvalho, tem alma quase praiana, com violões e guitarra “submersa” no estilo surf. Músicas como Tudo bem e Debochado lembram mais as sonoridades de bandas como The Sundays e Mazzy Star, cada uma num canto do indie rock clássico. Tatuagem e Humano trazem para o som do grupo o rock britânico do começo dos anos 2000.
As letras de 27, por sua vez, lembram um verdadeiro fluxo de consciência surgido na pandemia e depois dela, com músicas sobre amizades que desapareceram (144) ou permaneceram (Amizade), relacionamentos abusivos (Conserta), arrogância (Se ama) e trabalho (Esse sonho, dos versos: “todo mundo fica mais bonito quando faz o que gosta/brilho no olho/sorriso torto”).
Nota: 8
Gravadora: Balaclava