Crítica
Ouvimos: Rã, “Praia Grande shore”
- Praia Grande shore é o disco de estreia da banda paulista Rã, formada por Rafael Xuoxz (voz e baixo), Iuri dos Teclados (voz e sintetizadores), Guilherme Finochio (guitarras) e Vinícius Borges (bateria). A banda ainda tem três EPs na discografia.
- A banda afirma que o disco surge amarrado pela ideia de um reality show fracassado. “Primeiro porque a Rã sempre cultivou uma capacidade de se enxergar criticamente e rir de si mesma. Depois, porque tematicamente acabamos orbitando em torno de uma certa desconexão da realidade, ou inversão de valores em que os sujeitos se mostram mais investidos na vida encenada dos meios de comunicação do que em sua realidade material”, diz Xuoz.
Tinha que rolar, fazia tempo, uma zoação com esses reality shows de pegação que se passam em cidades de praia. No caso da estreia do Rã, a brincadeira com Rio Shore fica mais no título (referência ao balneário paulista de Praia Grande) e na capa, com farofa na areia, isopor e instrumentos musicais. Do começo ao fim, a Rã faz uma mescla progressivo-punk-stoner-psicodélica de bom humor, destacando os sons de sintetizador de Iuri dos Teclados, muitas vezes lembrando os solos malucos de Dave Greenfield, nos Stranglers.
O single de Praia Grande shore, bem curto, é a curiosa Banda nada a ver com você, que abre como uma espécie de tecno power pop, e segue para algo que lembra Mutantes e Kinks – a letra fala sobre um roqueiro que tenta conquistar uma fã de pagode, mesmo que ela deteste o som que ele ouve. O teclado, em vez de aumentar o lado “tecnológico”, muitas vezes suja mais ainda as músicas, como no punk espacial de JCV, a mescla de punk sombrio e shoegaze de Tobogã, e a psicodelia fluida de Video game. Já Kawazaki começa com um som de drone, ou de ar condicionado antigo (daqueles barulhentos) ligado, prosseguindo para um papo surrealista sobre motocicletas.
As guitarras de Guilherme Finocchio ficam entre o psicodélico e o econômico, às vezes lembrando os solinhos de poucas notas de The Edge (U2), como no stoner pós punk Baile gospel. No final, a lisergia pesada de Guitar girl e Magnim – essa ultima aberta com rock batido na guitarra, à maneira do Mudhoney, e com instrumentação desencontrada, mas ganhando bom diálogo entre synths e guitarras, transformando a música numa massa compacta. Pode colocar o disco do Rã no último volume na praia.
Nota: 8
Gravadora: Independente.
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