Crítica
Ouvimos: Norah Jones, “Visions”
- Visions é o nono disco de Norah Jones, com produção de Leon Michels, que dividiu parcerias com ela em várias faixas. Ele foi músico de Sharon Jones & The Dap-Kings e foi fundador da Truth And Soul Records, basicamente uma gravadora de soul e funk retrô.
- Norah afirmou no release do disco que boa parte das ideias para Visions “vieram no meio da noite ou naquele momento antes de dormir”.
- No disco, Norah tocou guitarra, teclado e baixo – além de piano em todas as faixas. Leon tocou vários instrumentos, inclusive bateria em algumas faixas, e também fez a engenharia de gravação.
Muita gente já anda falando que Visions é o disco pop que Norah Jones estava devendo fazia tempo. Bom, é mais ou menos isso, e é bom colocar as coisas em seus lugares: o nono disco de Norah é pop como se tivesse sido feito nos anos 1970, mas sem aquele ensimesmamento típico dos álbuns da onda agridoce. Até porque de agridoce Visions não tem nada: é basicamente um disco feliz, e que abraça o ouvinte.
O novo disco de Norah vem da mesma fonte soul+jazz+blues que vários álbuns dos anos 1970 vieram. Ali tem algo de Aretha Franklin, algo de Laura Nyro, algo de Carole King, de James Taylor, sem soar exatamente como nenhum desses artistas – e vale citar que os ruídos de pássaros que surgem na faixa de abertura All this time e em On my way lembram logo o hit choroso Lovin’ you, de Minnie Ripperton, mas o disco não tem nada conceitualmente nessa linha. Tem psicodelia em Visions? Tem, tão disfarçada que nem é perceptível – surge discretamente em gravações de vocais e em algumas abordagens.
No disco, Norah trabalha em canções que, mexe daqui e dali, poderiam estar no repertório de um girl group dos anos 1960 (Staring at the wall, a balada That’s life), cria hipotéticos temas de novela dos anos 1970 (a balada-blues Paradise, Alone with my thoughts), junta numa canção riffs de guitarra de faroeste e metais quase mariachi (Visions), faz soul-rock dançante e minimalista (I’m awake). E cria quase uma versão vintage do neo-soul dos anos 1990 em faixas como I just wanna dance e Swept up in the night, como se o estilo retrô fosse enviado numa máquina do tempo para épocas mais orgânicas, e retrabalhado (sim, é possível).
A vida da qual Visions fala em suas letras é um tanto quanto amarga e complicada às vezes. Mas no fim tudo é reconfortante, como nos discos antigos do Jackson 5. That’s life relembra que é assim mesmo, “você se perde, você é encontrado (…)/fala demais, bate no chão, desaba/isso é vida”. I’m awake prega que “houve momentos em que perdi a cabeça/mas agora estou bem, finalmente acordei”. Já Alone with my thoughts, que dava um bom título de disco, sopra no ouvido: “vou te mandar uma oração e um pedaço de casa/meu amor é por você”. Uma sensação de calor no coração que nem sempre a música tem dado nos últimos tempos.
Nota: 9
Gravadora: Blue Note