Crítica
Ouvimos: Motörhead, “Snake bite love” (relançamento)
Se você buscar entrevistas do Motörhead da época do lançamento desse Snake bite love (10 de março de 1998) vai ver Lemmy Kilmister (voz, baixo), Phil Campbell (guitarra) e Mikkey Dee (bateria) referindo-se a ele de forma bem pouco lisonjeira.
Não é bem assim. O décimo-quarto disco do grupo britânico (reeditado agora em CD no Brasil) mantém a postura guerreira de discos anteriores. E tem canções bastante pesadas e bem gravadas, como Dogs of war, Love for sale, o punk Take the blame e o metal boogie da faixa-título e de Don’t lie to me, além da sombria e quase experimental Assassin. Mas pertence àquela fileira de discos que Lemmy, por exemplo, acha que foram bem mais problemáticos do que boa parte dos lançamentos do grupo.
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O Motörhead estava numa fase aparentemente tranquila. Estavam de volta à formação clássica de trio, sendo redescoberto por vários grupos pesados (de metal e punk), com um contrato mais ou menos sólido com uma gravadora (a alemã SPV, onde ficariam um bom tempo). Mas nem tanto: em estúdio, a banda estava estressada, com pouco material e com pressa para gravar. Enfrentando problemas de saúde, Lemmy chegou a fazer algumas letras em cima do laço para gravar (“seis semanas antes de gravarmos, não tínhamos nenhuma música”, confessou anos depois). Mikkey e Campbell também não se entendiam com o repertório, nem com a melhor maneira de gravar o disco.
Para quem está acostumado com o Motörhead de alta octanagem do álbum Ace of spades (1980), Snake bite love apresenta pelo menos uma novidade estranha. A balada pesada Dead and gone abre com Lemmy cantando de forma irreconhecível, e acaba lembrando bandas que nasceram da costela do Motörhead, como Danzig e Mercyful Fate. O blues-rock Joy of labour traz o Motörhead valorizando mais riff e melodia do que peso – e se torna uma das mais legais canções feitas pela banda.
Da lista de faixas constam músicas boas que a banda detestava, como Night side (“a pior merda que já fizemos”, acreditava Mikkey Dee), Better off dead e Desperate for you. Integrantes da banda culparam bloqueio de autor, falta de tempo e pressões para que o disco não saísse do agrado deles. Mas Snake bite love, vá lá, é um dos melhores discos do Motörhead lançados nos anos 1990. Um disco errado que deu certo, e lamentavelmente acabou não se tornando tão ilustre quanto outros do grupo.
Nota: 8,5
Gravadora: ForMusic (no Brasil)