Crítica

Ouvimos: Montañera, “A flor de piel”

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  • Montañera é o nome artístico de Maria Monica Gutierrez, cantora e compositora colombiana que se radicou em Londres. A flor de piel é seu terceiro álbum, e o objetivo do disco é explorar a “experiência do imigrante”, através de um retorno às origens musicais e pessoais.
  • A faixa-título do disco, diz ela, “é sobre deixar meu coração um pouco mais leve”. Nomes como o minimalista Steve Reich são citados no release do álbum. De modo geral, as letras do disco, conta ela, “são um lembrete pessoal do que é importante para mim: curar, deixar ir, respirar, evaporar, esquecer, mudar, cristalizar”.
  • Mesmo com a experimentação musical, Montañera afirma que o lado verso-refrão é importante na hora de compor. Ela conta ter começado fazendo covers, e diz que amava rock argentino e Charly Garcia. “Também ouvia muito rock e metal. Foi nesse momento que percebi que a música para mim era uma experiência muito visceral”, contou aqui.

Em países de língua latina (Brasil entre eles), a expressão “flor da pele” indica intensidade, emoções afloradas e uma carga bem grande de sentidos mais aflorados ainda. É a tal coisa “que não tem remédio, nem nunca terá” da qual Chico Buarque falava em O que será (com subtítulo À flor da pele numa das três versões da letra), e que, no caso do autor de Cálice, surgiu inspirada por imagens de Cuba. No caso de Montañera, que escolheu justamente A flor de piel como título de seu terceiro álbum, o nome indica toda a carga de emoções, ao lado de um clima de viagem interna, de retorno às origens.

O nome artístico de Maria Monica Gutierrez (“montanhista”) já indica mais coisas: observação por cima, liberdade, algo quase celestial – e esforço para chegar mais perto das estrelas. É por aí que A flor de piel deve ser entendido: são canções eletrônicas e ao mesmo tempo folk, texturas musicais celestiais feitas com o uso de programações e sintetizadores, feitas para acompanhar imagens e acalentar o abraço no caos e no isolamento. Poderia ser recomendado a quem curte post-rock e as coisas menos pop do Kraftwerk, mas isso só serviria para enquadrar demais um som totalmente livre, e pronto para ser descoberto.

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A sonoridade de músicas como Vestigios, a faixa-título e Bajar é quase formada por montanhas de neve. Un día voy a ser mariposa é quase uma experiência psicodélica, trazendo vocoder e synths que voam de um canal para o outro. Como una rama traz as texturas musicais e vocais do bullerengue, desenvolvido por comunidades de origem afro-latina na costa caribenha da Colômbia. Santa Mar, entre marimbas, percussões e flautas, é a faceta quase orgânica do álbum, trazendo a musicalidade tradicional colombiana do Las Cantadoras de Yerba Buena. No final, um belo tema para embalar sonhos em Cruzar.

Nota: 8,5
Gravadora: Western Vinyl

Foto: Reprodução da capa do álbum.

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