Crítica
Ouvimos: Miami Horror, “We always had tomorrow”
Nos cinco anos da pandemia, ainda saem discos cujo conceito veio justamente daquela época, e de toda aquela sensação de estranhamento – e muitos mais virão. We always had tomorrow, primeiro álbum do Miami Horror em uma década, vem tocado pelo fantasma da finitude, mas simultaneamente vem repleto de esperança e de lembranças boas.
Benjamin Plant, ao lado de seu parça Daniel Whitechurch, decidiu transformar o terceiro disco do Miami Horror numa jornada – repleta de recordações sobre a infância, a adolescência e de pensatas sobre a passagem do tempo. Tudo imerso num design musical que inclui vinhetas “celestiais” e de tom ambient, que dividem momentos diferentes do álbum. É uma sonoridade de contrastes: um disco dançante, que vai do mais positivo ao mais gélido e sombrio, e em poucos minutos.
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We always had tomorrow já abre dando um susto nos ouvintes com Aurora/Dead flowers, cujos teclados ameaçam, logo no começo, partir para algo que lembra o infeliz disco mais recente do Coldplay. Felizmente não é o que rola, e a faixa soa mais como uma lenta introdução ao universo do álbum. Daí para diante, o disco se equilibra entre o vintage e o moderno. É o que rola em Another time, boogie gelado que abre remetendo aos anos 1970 e vai ganhando uma estileira eletrônica e patinante. E também na disco music modernizada de Together e numa faixa delicadamente sacolejante, Glowin, que chega a ganhar uma cara meio soft rock no começo.
We’re all made of stars, single do álbum, tem participação de Angeline Armstrong (da banda Telenova), e é uma dance music de altas energias, com tom espacial e mensagens de Plant para o seu “eu” da infância. Com referências claras a um pop de outros tempos, o disco retoma o tom quase disco em faixas como Remember e Don’t leave me (com beleza rara no arranjo de cordas) e parte para o eletrorock oitentista no fechamento, com Lost seasons – tudo isso sem deixar de conversar com a música feita em 2025. Um retorno celestial.
Nota: 10
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025