Crítica

Ouvimos: Mercury Rev, “Born horses”

Published

on

  • Born horses é o décimo disco da banda norte-americana Mercury Rev, e o primeiro autoral desde 2015. Em 201 lançaram Bobbie Gentry’s The Delta Sweete revisited, tributo ao disco The delta sweete, da cantora country Bobby Gentry (1968).
  • Hoje na formação, o grupo tem os fundadores Jonathan Donahue (voz, guitarra) e Sean “Grasshopper” Mackowiak (guitarra, teclados e efeitos), além de Marion Genser (teclados) e Jesse Chandler (flauta, teclados).
  • “Eu o conheci em 1983, mas não tivemos muitas brigas. Talvez uma vez a cada década”, conta Grasshopper ao Irish Independent sobre o relacionamento com Donahue. “Somos como Butch Cassidy e o Sundance Kid. Você sempre terá diferenças de opinião, ou algumas pequenas brigas, mas no final do dia somos como irmãos.”

Quem conheceu a neo-psicodelia punk do Mercury Rev assim que os primeiros discos do grupo chegaram às lojas, pode ter estranhado a banda assim que ela conseguiu sucesso. O grupo dos álbuns Yerself is steam (1991), Boces (1993) e See you on the other side (1995) era bem mais achegado ao barulho do que a faceta que Jonathan Donahue e Sean “Grasshopper” Mackowiak mostraram a partir do clássico Deserter’s song (1998), feito após uma separação, e marcou seu retorno sob outra proposta, mais camerística e voltada para um folk-country elaborado.

Na prática, era como se um grupo como The Fugs, Hawkwind ou Pink Fairies decidisse que a partir de agora, seu som deveria ser mostrado apenas em teatros, para um público mais exigente – mas na real era uma banda que parecia ter alergia ao sucesso tentando garantir seu tão sonhado lugar ao sol. Jonathan chegou a falar num papo com a Uncut em 2014 que já estava convencido de que a banda estava em desacordo com o gosto musical do mundo, e nada poderia ser feito. Tanto que o objetivo era que Deserter’s song encerrasse tudo com dignidade. “O mundo não estava exatamente esperando por um novo disco nosso. Não tínhamos empresário, advogado ou gravadora”, disse.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Primeiro álbum de inéditas do Mercury Rev desde 2015, Born horses ameaça voltar com a mesma rédea soltíssima dos primeiros discos do grupo, na abertura com Mood swings, aberta com solo de trompete e ambientação quase jazzística – e também no tom ambient e meio bossa noise de Ancient love, na sequência. Os vocais são falados e/ou declamados, como se a música fosse a moldura para os textos do grupo. O clima, de modo geral – e isso vale para todo o álbum – é de desorientação.

Faixa após faixa (são oito músicas), ouve-se o Mercury Rev aproveitando reflexos musicais de toda a sua história, em músicas como as celestiais Your hammer, my heart e Patterns, a paradisíca A bird of no address, e em canções que fazem recordar mais detalhadamente a época de Deserter’s song, como a faixa-título e Everything I thought I had lost. No final, um clima mais pós-punk, embora desértico, em There’s always been a bird in me.

Nota: 8,5
Gravadora: Bella Union

Trending

Sair da versão mobile