Crítica

Ouvimos: Lloyd Cole, “On pain”

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  • On pain é o décimo-segundo disco solo de Lloyd Cole, que tem mais três discos com sua banda oitentista Commotions e mais um, lançado em 2000, com o grupo The Negatives. A produção foi feita por Chris Hughes, o cara por trás do som de discos como Songs from the big chair, dos Tears For Fears, e que é produtor de Cole desde 2019.
  • O selo alemão Earmusic, que lançou o disco, é uma divisão da Edel Music, e tem um catálogo inacreditável formado por artistas experientes como Alice Cooper, Dee Snider (Twisted Sister), Francis Rossi (fundador da banda de rock pauleira Status Quo), a banda de acid jazz britânica Incognito e os bangers brasileiros do Angra.
  • Lloyd diz estar animado “por ainda encontrar novos métodos, novas perspectivas, novos sons. O álbum pode estar próximo da morte comercial, mas minha carreira está nesse estado há quase 30 anos e aqui estamos, ainda, e ainda quero fazer álbuns. Eu ainda quero ser ouvido”.

Não é um hábito nosso, mas vale começar a resenha com a definição lapidar que o site Louder Than War deu para esse novo disco de Lloyd Cole: “É um pouco como se mudar para um apartamento chique e ultramoderno, mas trazer sua poltrona favorita junto”. Para quem não acompanha a carreira de Lloyd faz tempo (e vale citar que ele vem gravando com regularidade), o novo disco do cantor britânico traz toda a memória do art-pop dos três álbuns que ele gravou com os Commotions, as lembranças de sua estreia solo em 1990 com o epônimo Lloyd Cole, as recordações de nomenclaturas pop hoje “idas” como o Aztec Camera.

O clima de “esta é a sua canção” que já existia na época de músicas como Jennifer she said continua lá, unido a sonoridades mais modernas e a sintetizadores que ora lembram os anos 1980, ora trazem sonoridades que poderiam estar em discos de Peter Gabriel ou dos Tears For Fears, ora modernizam o som do cantor – incluindo aí efeitos como os vocais tratados eletronicamente de I can hear everything, os loops da bela More of what you are, e o clima quase dreampop da faixa-título. Por acaso, a ficha técnica inclui nomes como Chris Hughes (o cara que produziu justamente os dois primeiros do TFF, e que produz o novo de Cole) e dois ex-integrantes dos Commotions, Neil Clark (guitarra) e Blair Cowan (teclados).

Como cria de uma cena mágica (o Last.FM, por exemplo, oferece bandas como The The, Style Council, Deacon Blue e Housemartins como “recomendados” para fãs de LC & The Commotions), Lloyd sabe que uma boa canção se faz oferecendo conforto em meio a um cenário angustiado, e beleza quando não se vê nada belo há muito tempo. E (no caso de quem tem idade para ter ouvido Lloyd no programa FM TV, da antiga Rede Manchete, ou na Fluminense FM) memória auditiva e lírica.

The idiot, tecnopop lento e cinematográfico, mexe com várias emoções, reimaginando a ida de David Bowie e Iggy Pop para Berlim, com linhas vocais iniciais que lembram Sloop John B, dos Beach Boys. No tecnorock oitentista Warm by the fire, revoltas populares pelas ruas, fogueiras queimando e queda do poder bancário em Los Angeles (“temos querosene funcionando/contemple os frutos de nossa indústria/contemple a noite de cristal”). Fechando o disco, Wolves traz quase oito minutos de uma sonoridade entre o pós-punk e as neo-progressivices dos anos 1980. Um disco curto, oito faixas, menos de quarenta minutos, e que parece sempre ter existido.

Gravadora: Edel Music/Earmusic
Nota: 10

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