Crítica
Ouvimos: Linkin Park, “From zero”
- From zero é o oitavo álbum do Linkin Park. É o primeiro álbum após a morte do cantor Chester Bennington (que saiu de cena em 2017), e também o primeiro a trazer a nova vocalista Emily Armstrong, da banda Dead Sara, além do novo baterista Colin Brittain. O restante da formação inclui Mike Shinoda (teclados, guitarra, voz), Brad Delson (guitarra), Dave “Phoenix” Farrell (baixo) e Joe Hahn (programação).
- Emily foi anunciada dia 5 de setembro, quando foi também anunciado o disco. Houve controvérsia pelo fato da cantora ter relacionamentos com a Igreja da Cientologia, e de ter comparecido em 2020 a uma audiência criminal do ex-ator Danny Masterson, condenado por estupro, e também cientologista. No dia seguinte ao seu anúncio na banda, quando surgiram essas histórias, ela confessou seu arrependimento por ter ido à audiência.
- Mike Shinoda produziu o disco, com o auxílio de colaboradores como Brad Delson, Colin Brittain, Matias Mora e Mike Elizondo. O nome do álbum é From zero porque, além de ser um recomeço, é uma referência ao primeiro nome da banda, Xero.
- E enfim, você deve saber: o Linkin Park toca hoje e sábado em São Paulo, no Allianz Parque.
Saiu disco novo do Linkin Park, com nova vocalista. E aí? Vale a pena? Vale a pena até para convencer não-fãs do grupo? Os fãs roxos vão gostar? Ou é um disco indicado apenas para fãs extremamente fiéis, do tipo que papam tudo?
Vamos por partes. Quem nunca teve o menor interesse pelo LP, dificilmente vai encontrar em From zero motivos para passar a gostar da banda. Os fãs radicais… bom, depende de cada um, e não é meu lugar de fala. Por outro lado, From zero tem relevância, e muita: é o renascimento de uma das bandas mais importantes dos anos 2000. E é um disco feito para mostrar que a banda ainda está viva, e pode render algo parecido com os primeiros álbuns. E, sim, a ideia de apertar o start partindo do zero, é decididamente simpática.
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Em From zero, o Linkin Park volta pendendo para um lado mais emo, ou screamo, mais até do que a caricatura normal do nu-metal. Mike Shinoda canta bastante e continua responsável pelos raps – e toma a frente do grupo em faixas como Two faced e Cut the bridge, duas faixas aludindo a relacionamentos tóxicos antigos que deixaram marcas (ruins, claro). Faixas como o single The emptiness machine e Over each other vão para uma onda total punk metal. Casualty, por sua vez, é o tipo de música que só existe em 2024 porque o Helmet fez sucesso nos anos 1990. Stained e Heavy is the crown são nu-metal típico.
Emily Armstrong, a nova vocalista que foi o ponto de discordância entre fãs do grupo e familiares de Chester Bennington, ainda não adquiriu – normal, aliás – a sinergia com Mike Shinoda que ele tinha com Chester. Não chega a soar como uma convidada na sua própria banda, e fica claro que não é um esquema do tipo Linkin Park + Emily, como se ela fosse só um apêndice. Sua voz vai do suave ao (muito) berrado de Casualty, passado pelo tom punk-metálico de The emptiness.
Quem sempre viu no Linkin Park a explosão de sentimentos represados, vai curtir IGYEIH (abreviação de “i give you everything I have”) com letra falando de relacionamentos marcados por sonsices e escrotidões gerais (bom verso: “você não é tão honesto quanto mostra ser/está mais para um diabo com complexo de deus”). E também as emoções fortes do encerramento com Good things go, cuja letra é marcada pelo relacionamento intenso com os traumas da vida – um assunto definitivamente ligado à poética do grupo.
From zero indica um recomeço bacana para o Linkin Park. Um recomeço simples, direto e reto – o álbum tem pouco mais de meia hora de duração. E uma volta em alto volume.
Nota: 8
Gravadora: Warner/Machine Shop