Crítica

Ouvimos: Lexi Jones, “Xandri”

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A expressão “lançamento silencioso” acaba de ganhar um novo significado: Alexandria Zahra Jones – ou Lexi Jones, filha de David Bowie – lançou seu primeiro álbum, Xandri, praticamente sem alarde, chegando aos ouvidos de críticos e ouvintes em ritmo desacelerado. Quem a acompanha no Instagram sabia o que estava por vir, já que Lexi vinha falando do disco por lá. Mas veja bem: é a filha de David Bowie, e o disco saiu devagar, sem que muita gente percebesse.

O título Xandri vem do grego e faz referência a um “defensor da humanidade” – o que pode sugerir, num primeiro momento, uma tentativa de criar um Ziggy Stardust próprio. Mas não é bem por aí: a personagem de Xandri parece ser a própria Lexi, num trabalho bastante confessional. E a pergunta que paira no ar é inevitável: vale a pena ouvir?

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A resposta é sim. A voz de Lexi Jones às vezes evoca a frieza elegante de Nico, em outras momentos lembra o calor de Bobbie Gentry. Suas composições usam a repetição como recurso estético, não como vício. Faixas como Along the road e Let me go têm uma atmosfera gélida, remetendo à fase berlinense de Bowie ou às texturas de Brian Eno, com pianos sequenciados, dissonâncias suaves e batidas que flertam com o eletrônico. Já Crack of me lembra algo entre Gigantic, dos Pixies (por sinal, uma música que Bowie adorava e até gravou), e Patti Smith, só que com uma energia tipicamente anos 1990.

Se for para buscar paralelos entre Lexi e o pai, talvez o principal seja a busca de soluções melódicas simples e pegajosas – aquele tipo de “cola” que alimenta o pop, ou deveria alimentar – mas dentro de experimentalismos particulares. In the almost, uma das melhores faixas, mistura rock e country com leveza. Já Moral compass aposta em um clima sofisticado e nostálgico, unindo dois templates em áreas diferentes do arranjo: um clima soul e sessentista, e outro com base no indie-pop e no r&b. Essa busca por sons novos também aparece na cigana The passage unseen e na fantasmagórica The rush of the absurd. E em todo o disco.

Xandri é um disco que provoca, desde o início, aquela sensação de estranhamento bom – o tipo de som que, quando toca em algum lugar, faz você parar e se perguntar: “que música é essa?”. É um disco que aponta caminhos interessantes para uma artista que parece mais interessada em construir sua própria voz do que em aproveitar a herança.

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 2 de abril de 2025.

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