Crítica

Ouvimos: Japanese Breakfast, “For melancholy brunettes (& sad women)”

Published

on

Michelle Zauner, a cabeça por trás do Japanese Breakfast, declarou que o novo disco da banda, inicialmente, seria “mais assustador e guiado pela guitarra”. Não é bem assim: For melancholy brunettes (& sad women) não mete medo, e é guiado: 1) pela ambientação acústica das faixas; 2) pelo excelente uso de violões e bandolins; 3) pelo aproveitamento de teclados e (enfim) guitarras, quando isso tudo serve à sonoridade quase barroca do grupo.

For melancholy brunettes tem bem mais a ver com os dois primeiros álbuns do grupo do que com Jubilee, disco de 2021 que arrebanhou fãs para o Japanese Breakfast. A “melancolia” do nome do disco não é apenas figurada: é um lugar que Michelle habita e que serve como uma espécie de viagem no tempo. Inclusive porque entre as inspirações do ábum estão textos do poeta renascentista Matteo Maria Boiardo e o quilométrico romance A montanha mágica, de Thomas Mann – que Zauner encarou e que serviu de inspiração para Magic mountain, um folk introspectivo que soa como tentar olhar além das paisagens. Ou como ficar “brincando de rei, desacelerando o tempo” (trecho da letra).

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Justamente por essa opção pela introversão ampla, total e irrestrita, o novo disco do Japanese Breakfast, mesmo durando pouco mais de meia hora, é uma experiência lenta – beeem leeenta às vezes, necessitando certo fôlego. Here is someone abre o disco levando o ouvinte para longe e inserido o clima contemplativo de Orlando in love, a segunda faixa. Entre os poucos momentos de explosão do disco está o single Mega circuit, uma canção dos Beach Boys em que a tempestade substitui a praia – e cuja letra zoa homens mimados, misóginos e dependentes.

Uma outra nessa mesma base, é o pós-punk analógico e country Picture window, lembrando o clima sexy de bandas como The Cardigans, e a vibe misteriosa do Psychedelic Furs. Mas o disco é verdadeiramente representado por canções bem mais delicadas, como o pós-punk de câmara Honey water, o folk pastoril e grego de Leda (inspirada justamente no conto mitológico de Leda e o cisne) e o bittersweet celestial de Winter in LA, que faz lembrar o tom brilhoso dos High Llamas.

Por outro lado, um futuro cada vez mais próximo do country surge também em For melancholy brunettes, com Men in bars, canção com slide guitar, piano e a participação vocal de ninguém menos que o ator e cantor Jeff Bridges. Mas… seja lá o que vier por aí depois disso, Michelle Zauner não parece querer deixar pistas 100% claras.

Nota: 8,5
Gravadora: Dead Oceans
Lançamento: 21 de março de 2025.

Trending

Sair da versão mobile