Crítica
Ouvimos: Illuminati Hotties, “Power”
- Power é o terceiro álbum do Illuminati Hotties, projeto criado pela produtora e musicista norte-americana Sarah Tudzin, O álbum é o que ela classifica de “disco da vida real”, com letras que falam bastante sobre sua vida de alguns anos para cá. Nos últimos tempos, Sarah perdeu sua mãe (morta em 2020), e casou-se com a musicista Maddie Ross.
- “Vulnerabilidade não é minha zona de conforto, e eu nem sinto que este álbum é mais suave, mas sim mais real do que qualquer outra coisa que eu já fiz”, contou Sarah à revista Range, afirmando também que mesmo compondo canções suaves, o peso era importante. “Eu estava admirando muitas bandas dos anos 2000 que eram íntimas e suaves, mas ainda não tinham medo de parecer que estavam tocando no rádio, mesmo que fosse uma balada ou uma música mais doce, como The Shins ou talvez Modest Mouse”.
Quase sempre o Illuminati Hotties se comporta como uma banda punk dos anos 1990 – e a onda musical de Sarah Tudzin (mulher-banda por trás do IH) cai bem nos ouvidos de quem lembra da época em que o Lollapalooza era só um festival alternativo, por exemplo. Na receita, entram sons tristinhos, sonoridades lembrando um desvio mais pesado da new wave, surf music, temas melodiosos e sensíveis na linha do Dinosaur Jr, e ganchos que esfregam na cara do ouvinte a disposição para fazer música grudenta. Afinal, estamos falando de uma banda que tem no repertório uma pérola chamada MMMOOOAAAAAYAYA, uma canção que se localiza entre Cramps, Ramones e Strokes.
Sarah produziu bandas queridinhas da crítica (e excelentes) como Boygenius e Weyes Blood, tem experiência e moral no meio fonográfico – além de um Grammy na estante. Na hora de escrever Power, não mudou tanto a concepção de seu projeto, e fez um disco típico de quem acredita no rock alternativo, nas guitarras e nos refrãos como canhões de comunicação. Trabalhando num estilo musical que costuma ser chamado por ela de tenderpunk, e que indica peso, contestação e suavidade, ela volta unindo agilidade musical e sensibilidade em faixas como Can’t be still, I would like still love you, Throw (Life raft), YSL e The L, quase sempre na mesma zona cinzenta entre alegria e melancolia existencial de bandas como Weezer e The Cure. What’s the fuzz, uma música sobre o excesso de informação e de confusão mental, é bem Pixies, mas igualmente é bem Cheap Trick.
O lado tender do disco fica por conta de músicas mais sensíveis como Rot, Sleeping in (marcada por violões e um riff simples de teclados) e You are not who you were, um pouco mais próximas da sonoridade celestial de bandas como o Boygenius. Fica também por conta dos temas das faixas, quase sempre girando em torno da roda da vida: estresses, ansiedades, amor, pequenas alegrias e luto – a mãe de Sarah morreu em 2020 e o tema vazou para letras como a da faixa título, uma balada melancólica que fala em “quero estar onde você está agora/quero sentir o seu poder”. Força e vulnerabilidade andando juntas, de maneira complementar.
Nota: 9
Gravadora: Snack Shack Tracks/Hopeless