Crítica
Ouvimos: High Llamas, “Hey panda”
- Hey panda é o décimo-primeiro álbum de estúdio da banda anglo-irlandesa High Llamas, fundada em 1991 por dois ex-integrantes da banda indie Microdisney, o cantor e compositor Sean O’Hagan e o baixista Jon Fell, além do baterista Rob Allum.
- O novo disco vem oito anos após o anterior do grupo (Here come the rattling trees, de 2016) e traz mudanças no som da banda, que ressurge influenciado por hip hop e sons eletrônicos. Efeitos de autotune aparecem aqui e ali, por exemplo.
- Sean diz à Magnet Magazine que o novo disco lhe parece, de qualquer jeito, como um álbum da banda. “Basicamente porque escrevo em um piano e em um violão de cordas de náilon. Qualquer outra pessoa iria aonde a melodia leva, mas tento levar o ouvinte a um lugar muito diferente”, conta.
Num mundo ideal, o som belo e desafiador dos High Llamas encontraria mais ouvintes nas platafomas digitais do que tem atualmente. Mais do que referenciado em Van Dyke Parks, Beach Boys, The Left Banke e rock barroco em geral, a musicalidade do grupo liderado por Sean O’Hagan encontra paralelo na beleza dos discos orquestrais e das trilhas de filmes lançadas entre os anos 1960 e começo dos 1970. Trechos de discos como Hawaii (1996) soam celestiais como os álbuns orquestrados por Burt Bacharach, ou como as melodias da trilha sonora da fantasia Horizonte perdido (1973), composta por Burt.
Aliás, rebobinando: o filme conta a história de um sujeito, Richard Conway (Peter Finch), que vai parar num lugar chamado Shangri-La com uma turma após um sequestro de avião, e acaba cotado para virar o líder dos lamas locais (o High Lama, enfim). Ainda que o “llama” do nome da banda seja de “lhama” (o animal), e tenha vindo de uma foto que O’Hagan viu numa revista, rola aí uma conexão imaginária de uma das bandas mais criativas e arrojadas da história da música indie com o universo do sonho e da fantasia. Um mundo que está presente em toda a discografia deles. E que arrebanhou muitos fãs pelo mundo agora.
Agora corta pra Hey panda, disco novo deles, e o primeiro em oito anos. Mais eletrônico que o comum na obra do grupo, e produzido após o contato com a obra do produtor e rapper norte-americano J Dilla, pode causar bastante estranhamento em quem conhece a banda de outros discos. Ainda que o High Llamas talvez até estivesse habilitado a passar por uma metamorfose dessas, é complicado ver Sean O’Hagan e seus amigos comportando-se como se fosse uma banda psicodélico-moderninha. Uma metamorfose que, sim, é justa, mas que ainda precisa de maturação.
Da fase nova do grupo, vá sem medo à bossa-nova lo-fi Bade amey, ao lounge-r&b doidão How the best was won (excelente título, por sinal), à balada eletrônica The water moves e ao synth pop (!) Fall off the mountain. Por outro lado, vá com medo à balada blues Hungriest man, e à meditativa The grade, tentativas meio tortas de inserir na sonoridade do grupo efeitos de autotune. Tem o instrumental Yoga goat e Stone cold slow, ambas soando como tentativa de parecer com o disco A wizard, a true star, de Todd Rundgren, mas sem a mesma maravilhosidade. Um retorno bastante aguardado, mas que ainda não é “o” retorno.
Nota: 6,5
Gravadora: Drag City