Crítica
Ouvimos: Guilherme Peluci, “São Paulo instrumental”
- São Paulo instrumental é um disco solo do maestro e músico Guilherme Peluci, em que ele conduz um processo de improvisação com uma variedade de músicos. O trabalho foi gravado durante dois dias e o material bruto (300 horas de gravação!) foi editado para caber em sete faixas. O lançamento do disco vai rolar no Teatro Alfredo Mesquita, dia 15 de agosto, às 21h, com Peluci e os músicos demonstrando como foi a improvisação.
- Além de Guilherme, participaram do disco Vanessa Ferreira (contrabaixo), Benjamim Taubkin (piano), DJ RTA (scratches), Sue (guitarra e samplers), Barulho Max (percussão, objetos, flauta transversa e vocal), Luiz Rocha (clarinete e clarone), Desirée Marantes (violino), Gylez (viola), Felipe José (violoncelo e flauta transversal), Bruno Duarte (percussão), Pedro Michelucci (bateria) e John di Lallo (synth) – este último entrou para o grupo no segundo dia de gravação.
Tem muita coisa que une esse São Paulo instrumental, de Guilherme Peluci, a São Paulo – Brasil, disco instrumental gravado por Cesar Camargo Mariano em 1977. São dois discos que falam musicalmente de São Paulo, claro. E são dois álbuns ligados ao jazz – ou pelo menos usando a linguagem do jazz como forma de comunicação – cada a um pertencendo ao seu tempo, usando a música do seu tempo e lidando com a tecnologia disponível, cada um em sua época.
O disco de Cesar era um mergulho nas possibilidades do jazz funk, com referências de Herbie Hancock, batidas fortes, músicas instrumentais de nomes contemplativos (Imigrantes, Fábrica, Metrô, Litoral), indicando um passeio pela metrópole, com seus lados bons e ruins. Peluci viaja em lugares e em sensações de São Paulo, apontando para um jazz de seu tempo, com samba, rock, forró, hip hop, solos, improvisos, scratches. Tudo gravado com participações de diversos artistas, trabalhando em improvisação conduzida, num processo que depois foi conduzido por edições e escolhas finais – mas que no fundo, cabe ao ouvinte completar com a imaginação de novas cenas.
São Paulo instrumental abre com um som mais “urbano” e pesado, Espada de São Jorge, partindo em seguida para um som mais misterioso em Queijo lanche, levada adiante por baixo, piano, bateria, sinos e ruídos extraídos de instrumentos de cordas. Pedestre no Anhangabaú abre mais contemplativa, e depois passa a musicar o caos da cidade, na união de jazz e hip hop proporcionada pelo diálogo entre piano, bateria e scratches. Liberdade e Consolação fica entre jazz, forró, samba e sons latinos.
O trio final de músicas do álbum é mais experimental, cabendo o tom soturno e ambient de Vai na fé e Destino Paraíso, e o cruzamento de improvisos e sons eletrônicos de Desvairismo (música que, segundo o texto de lançamento do disco, “retrata uma São Paulo digital, expandindo-se infinitamente em cenários sonoros caóticos”).
Nota: 9
Gravadora: Independente.