Crítica
Ouvimos: Guga Bruno, “7”
- 7 é o sétimo disco do cantor e compositor carioca (“tijucano”, esclarece) Guga Bruno. Guga é ex-integrante de uma banda que marcou época no rock do Rio nos anos 2000, o Lasciva Lula, faz trilhas sonoras e toca guitarra também na banda Melvin e Os Inoxidáveis.
- Em 2024, ganhou duplamente o prêmio de melhor trilha sonora do Festival do Rio com os filmes Kasa Branca (Luciano Vidigal) e Quando vira a esquina (Chris Alcazar), ambos em parceria com Fernando Aranha – sim, eles empataram consigo mesmos, como o release de Guga explica.
- O próprio Guga Bruno produziu o disco, além de compor tudo sozinho.
Não é para desanimar ninguém, não, mas o novo álbum do cantor, compositor e trilheiro carioca Guga Bruno é bastante realista, mesmo quando soa um tanto quanto pessimista. Lembrando nomes como Walter Franco, Belchior e Arnaldo Antunes/Titãs, ele entrega partículas poéticas de bolso em faixas como Achismos (power pop de menos de um minuto que abre o disco). Também solta o verso “aceita que dói/aceita que dói mesmo” no indie rock soul Escapismos. E traz uma visão bastante lúcida sobre o que significa sorte e azar num mundo desigual (Sorte, escolha e circunstância, um punk melódico cuja letra abriga racismo, traumas, cartas que vêm à mão, determinismos, escolhas e coisas que não mudam mais, porque já passaram).
O ponto fraco de 7 é que as músicas de Guga, todas excelentes, mereciam mais peso na voz e na bateria. Por outro lado, o maior peso do disco vem justamente da estrutura das canções e das letras. Como em Passaporte, uma espécie de bubblegum indie que encerra o disco e traz uma reflexão diante de todas as outras letras: “Não faça planos/faça pães/faça partos/faça parte do que quer mudar/faça arte/faça chuva ou faça sol e na tempestade faço um samba para respirar” . Socorro traz uma visão pessoal de Guga sobre a letra de Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz). Fúria flor, uma balada com letra lembrando Secos & Molhados, diferencia fúrias e sensibilidades (“a fúria flor só quer se acalmar”). Dormente, com apenas um minuto, traz um tom especial e meditativo para o álbum.
O lado mais pop-rock do disco traz à memória o Lasciva Lula, banda anterior de Guga Bruno – incluindo aí a tendência do saudoso grupo para mesclar poesia surrealista e indie rock herdado de Pixies e pós-punk britânico. É o que rola no quase punk Juízo inicial, no punk country Voltar pra casa, cuja letra mistura saudade, dor e superação, e na balada Mesmo sem querer.
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 9 de dezembro de 2024.
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