Crítica

Ouvimos: Geese, “3D country”

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  • Vindo de Nova York, o Geese é formado por Cameron Winter (voz), Gus Green (guitarra), Foster Hudson (guitarra), Dom DiGesu (baixo) e Max Bassin (bateria). 3D country é o segundo álbum. A banda produziu o disco ao lado de James Ford (Arctic Monkeys, Depeche Mode, Shame).
  • A faixa-título vem de uma história maluca criada por Winter, “sobre um cowboy que usa psicodélicos e frita seu cérebro para sempre. Eu estava imaginando no começo que ele é um personagem masculino estoico como de um romance de Cormac McCarthy (autor norte-americano de livros de faroeste), mas então ele se desfaz e vê suas vidas passadas na Roma Antiga, a Grande Muralha da China”.
  • Assim o baterista Max Bassin define o álbum. “É como ir ao circo e, em vez de se divertir, todo mundo está tentando te matar”. Temas como o meio ambiente e catástrofes naturais surgem nas letras, e Winter considera que o disco fala sobre “destruição ambiental” e “viver, apesar do total medo das mudanças ambientais”. “Quis adotar um meio irreverente e sarcástico de ver isso”, contou.

Tem algo na banda novaiorquina Geese que lembra o pequeno mundo indie das bandas “cerebrais” dos anos 1970/1980 – uma lista enorme que abarca de Talking Heads aos mineiros do Sexo Explícito, ou os grupos de coletâneas como Não São Paulo e No New York. Isso aparece em canções anárquicas como 2122, e no tom feroz de alguns vocais e guitarras.

Só que na mistura, surgem influências de soul nos vocais emocionados de Cameron Winter e nos corais de faixas como I see myself, Gravity blues e Cowboy nudes. Uma musicalidade que eles dizem ter sido tirada dos álbuns do Funkadelic – ouvida de perto, muita coisa ali, especialmente nas guitarras, parece filtrada por audições de Television, Pavement, e dos primeiros discos solo de Stephen Malkmus. Também surge algo que joga o Geese para um canto completamente diferente: o dos fãs e herdeiros de bandas como o Rolling Stones de 1972/1973. Mesmo quando surgem o art punk ruidoso, de quase sete minutos, de Undoer, ou o clima quase pós-hardcore da funkeada Mysterious love, com vocais berrados e batida quebrada.

Assim, balançando entre o lado “cerebral” e o lado roqueiro, o grupo vai se equilibrando como pode em seu segundo disco. Tanto que 3D country é igualmente o disco que traz um pós-punk com clima rocker, alma interiorana, violino e piano, Crusades, e um blues-country indie bem bonito, Gravity blues. Além da balada cinematográfica Domoto, repleta de partes diferentes e climas selvagens em poucos minutos, e da vitoriosa St. Elmo. O que dá pra dizer a essa altura é para ninguém se assustar com a quantidade de estilos e climas diferentes no álbum do Geese: a banda diz gostar de artistas que correm riscos e que promovem mudanças, e oferece exatamente isso ao ouvinte, mantendo uma unidade sonora que é só deles. No fim das contas, um universo onde o que parece enquadrado e certinho pode trazer perigo, e o que parece maluco e distorcido segue uma tradição no rock. Ouça.

Gravadora: Partisan/Play Ir Again Sam
Nota: 8

Foto: Kyle Berger/Divulgação

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