Crítica

Ouvimos: Garotas Suecas, “1 2 3 4”

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  • 1 2 3 4 é o quarto álbum do Garotas Suecas, banda paulistana formada por Tomaz Paoliello (guitarra, voz), Nico Paoliello (guitarra, voz), Irina Bertolucci (teclados, voz) e Fernando Perdido (baixo, voz). O álbum foi produzido por Nico e André Bruni.
  • Pela primeira vez todos os quatro integrantes cantam num álbum. O release de lançamento explica que trata-se do “primeiro disco que o grupo se consolida como quarteto” (houve saídas de integrantes e um esforço da banda para consolidar a nova formação nos últimos tempos).
  • O material é bem atualizado em termos de letras, mas 1 2 3 4 já estava sendo composto antes de março de 2020, e depois foi retomado pelo grupo na pandemia.
  • No disco, há uma parceria com o ex-atual titã Paulo Miklos (ele divide a autoria de A bala que era pra ser sua com Nico).

O quarto disco do Garotas Suecas é um pesadelo. Calma, nada a ver com a qualidade das músicas – 1 2 3 4 é uma coleção de canções que indica caminhos bem legais para o rock brasileiro. A questão é que são onze faixas que levam todo mundo para um vórtice de golpes e desumanidades governamentais que todo mundo precisou aturar nos últimos anos. Aponta igualmente para quem contribuiu para a subida dessa turma, sem rótulos baratos e sem latim gasto à toa.

O radar da banda aponta, na verdade, para alguns anos antes – em What U want, o verso “eu te avisei desde 16” (no caso o ano, 2016) retorna ao impeachment, ao fim de uma era, e ao momento em que personagens bem estranhos apareciam numa cena que gerou quatro anos de descaminhos. Musicalmente, o disco é alegre, trazendo referências que vão do samba ao country, passando pelo rock sessentista, numa mistura de climas que recorda Mutantes, Fellini e, em especial, Titãs – esta última banda parece ser a maior referência do Garotas Suecas.

O tom de 1 2 3 4 é bem mais tranquilo nas faixas de abertura, Tire seus dedos, a esperançosa Todo dia é dia de mudança, e a romântica Só quero você (“eu queria que você me visse como eu te vejo/quantas noites em claro eu passei tentando te esquecer”). Já Veneno traz a rotina estafante da pandemia, enquanto A bala que era pra ser sua fala diretamente sobre temas como armamento da população. “Não quero estar na mira/da violência que você dissemina”, diz a letra. Sons indianos e psicodélicos aparecem em Podemos melhorar, uma das mais esperançosas do disco

Fechando o álbum, Gentrificação tenta colocar, num country rock animado, um tema quase imusicável: como locais cheios de casas vão aos poucos se transformando em quarteirões de concreto, e negócios de bairro dão lugar a farmácias e empresas maiores e mais corporativas. Você nem sente que acabou de ouvir uma canção triste.

Gravadora: Freak
Nota: 8,5

Foto: Fausto Chermont/Divulgação

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