Crítica
Ouvimos: Friedberg, “Hardcore workout queen”
- Hardcore workout queen é o primeiro álbum do Friedberg, banda liderada por Anna F, cujo nome verdadeiro é Anna Wappel. Ela é austríaca, nascida na cidade de… Friedberg. Entre sues primeiras influências, estavam artistas como Bob Dylan, Alanis Morissette e Joan Baez, que ela ouvia com os pais.
- Ela gravou dois álbuns creditados a seu nome artístico, Anna F, em 201o e 2014, e chegou a abrir shows para Lenny Kravitz na Europa, em 2009. Boa parte do material de Hardcore já estava escrito e até gravado antes dela conhecer as outras integrantes da banda (Emily Linden na guitarra, Cheryl Pinero no baixo e Fifi Dewey na bateria- e sim, Friedberg é uma banda).
- Um tema recorrente no disco é os padrões impossíveis que as pessoas tomam para sua vidas. “Está ficando cada vez mais difícil, sinto que há cada vez mais opções para tudo. Há um milhão de aveias diferentes. Um milhão de tendências diferentes; duas semanas depois, há outra. Navegando por toda essa loucura e tomando decisões, fazendo compras, deslizando para a esquerda ou direita, todas essas coisas… Estou apenas tentando manter a sanidade”, contou Anna à New Noise Magazine.
O som do Friedberg tem tudo para virar mania. Anna F., a vocalista austríaca, juntou-se a mais três outras musicistas e fez de sua banda um retrato fiel e histórico da união de rock e música pop. Hardcore workout queen surge trilhado num corredor que mistura new wave, technopop, power pop, som clássico de girl group, angústias existenciais, e um ou outro aceno para bandas noventistas com mulheres no comando, como Shampoo, Republica e Elastica.
Em termos de letras, boa parte do repertório do álbum parece ter sido feito após uma visita básica a newsletters e redes sociais: a luta diária para manter a cabeça no lugar, tentar se manter saudável e levar uma vida mais ou menos equilibrada sai na frente e ganha espaço em vários momentos de Hardcore workout queen (algo como “rainha da malhação pesada”). A faixa-título, um pós-punk grudento, com dramaticidade pop, ritmo de rock anos 1990 e refrão quase infantil, une extremos: uma mulher que passa o dia na academia e se alimenta de granola e quinoa, e uma outra que passa o dia em casa criando e pede ao ChatGPT que a substitua em eventos.
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A mescla de sons do disco aponta para a união de new wave e pop sofisticado (100 times), partículas de Pixies e do lado mais viajandão do T. Rex (Venice 142), tecnopop lembrando Ultravox em alguns momentos (Hello, Better than we are), indie pop ruidoso e quase bubblegum (So dope) e mais pós-punk (My best friend, uma música sobre um relacionamento que fica no quase). Os vocais de Anna soam às vezes bem próximo da estileira new wave de Debbie Harry ou do tom blasé de Justine Frischmann (Elastica). E em vários momentos a produção insere o som do Friedberg numa onda que alude tanto ao punk quanto à união de rock e rhythm’n blues, tanto a Ronettes e Marvelletes quanto a Go-Go’s, ou a novidades como Wet Leg e The Big Moon.
A visão de Anna de que o disco de estreia deveria funcionar como uma viagem de carro faz todo sentido. Hardcore workout queen bate firmíssimo na missão de ser uma viagem musical por vários sentimentos, tanto nas letras quanto nas melodias. E ganha o/a ouvinte não apenas por aludir a vários momentos felizes do pop-rock quanto pela independência e personalidade com que faz isso.
Nota: 8
Gravadora: Clouds Hill