Crítica

Ouvimos: Franz Ferdinand, “The human fear”

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  • The human fear é o sexto disco da banda escocesa Franz Ferdinand. O grupo tem hoje na formação Alex Kapranos (voz, guitarra, teclados), Alex Hardy (baixo), Julian Corrie (teclados, vocal), Dino Bardot (guitarra, vocal) e Audrey Tait (bateria, percussão).
  • É o primeiro álbum com a baterista Audrey, que se tornou conhecida pelo trabalho em inúmeras bandas – como a dupla de synthpop The Girl Who Cried Wolf. Ela também é sócia da Novasound, empresa escocesa que faz trilhas de filmes e peças de teatro. Paul Thomson, ex-baterista do FF e um dos fundadores, saiu na boa e até ajudou Audrey em sua entrada.
  • Segundo Alex, o disco novo fala do ser humano por intermédio dos medos, daí o nome (“o medo humano”, em inglês). E The human fear aborda certos tipos específicos de medos: “medo de isolamento social, medo de deixar uma instituição, medo de deixar ou permanecer em um relacionamento”, diz o cantor.

Pronto: o Franz Ferdinand agora já pode ser chamado de clássico sem que fãs de bandas realmente clássicas (as dos anos 1960, 1970, 1980 e, enfim, 1990) se sintam ofendidos. Desde o comecinho, a banda de Alex Kapranos conseguia fazer um som que parecia original sem necessariamente ser original – uma mescla de características que acabava dando uma cara própria para o som deles, a ponto de já ser possível falar “isso aí é meio Franz Ferdinand”. The human fear mostra o Franz conseguindo fazer o melhor cozidão de referências roqueiras que eles conseguem fazer em muito tempo.

Aparentemente, toda a banda foi exposta a uma dieta musical que inclui Beatles (bastante), Paul McCartney solo (mais ainda), XTC, Buzzcocks, Kinks e até The Doors – o fado grego de Black eyelashes e a marchinha ruidosa e garageira de The birds têm lá suas lembranças do canto de Jim Morrison. Build it up lembra a fase oitentista da carreira de Paul. The doctor soa como um New Order aceleradíssimo, quase aeróbico e bom de pista.

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  • Temos um episódio do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, sobre o comecinho do Franz Ferdinand.

Hooked é uma (excelente) tentativa de chegar mais perto da house music e da disco. Everydaydreamer soa como uma tentativa de oscilar entre Queen e Ultravox (algo que o Franz Ferdinand, sabe-se lá se inconscientemente ou de propósito, já havia tentado em outros momentos). Bar Lonely tem algo de synthpop, mas também tem algo que lembra bandas como Kinks e The Who. Entre as maiores surpresas de The human fear, tem a grandiloquente Tell me I should stay, que em vários momentos lembra uma versão Tim Burton do álbum Hunky dory, de David Bowie (1971). E Night or day, já lançada como single, faz lá suas visitas ao piano de Hey bulldog, dos Beatles.

Audacious, a faixa de abertura, foi a primeira faixa a chegar a público, em single. Uma música que consegue – em duas ou três partes diferentes – soar punk e beatlemaníaca ao mesmo tempo. A letra da faixa recorre a um formato meio esgotado: aquela auto-ajuda cool, com versos pseudo-existencialistas lado a lado com frases como “não pare de se sentir audacioso/não há ninguém para nos salvar/então continue”. Você tem que ser um/uma excelente letrista para conseguir bons resultados fazendo isso, e é algo que volta e meia o FF tenta fazer – mas como música pop são apenas três minutos de vida e identificação, deixa eles. Até porque iniciar o ano com um disco animador como The human fear é muito, mas muito bom.

Nota: 8,5
Gravadora: Domino
Lançamento: 10 de janeiro de 2025.

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