Crítica
Ouvimos: Dua Lipa, “Radical optimism”
- Radical optimism é o terceiro álbum de estúdio da cantora anglo-albanesa Dua Lipa, e o primeiro de estúdio em quatro anos.
- Em comunicados à imprensa, a cantora chegou a citar influências como a neo-psicodelia e o brit-pop no disco. O álbum foi produzido por Danny L. Harle, Ian Kirkpatrick, Kevin Parker (Tame Impala) e Andrew Wyatt (Miike Snow).
- À Billboard, Dua disse que se trata de seu disco mais pessoal. “Por um longo período de tempo eu pensei: ‘O que eu guardo para mim, o que coloco lá fora?’. ‘Como posso falar sobre minhas histórias sem colocar toda a minha vida pessoal em risco?’ É uma posição bastante vulnerável para se colocar, enquanto neste álbum eu me senti muito livre para contar minhas histórias e falar sobre minhas experiências”, contou.
O título e a capa do disco novo de Dua Lipa entregam bem mais do que o resultado do álbum. A imagem da cantora nadando entre tubarões e o nome “otimismo radical” soam um tanto mais revolucionários do que o disco, que traz um pop bacaninha, não exatamente perfeito. Future nostalgia, o anterior, dava novos contornos à disco music e contornos clássicos à house music. Já Radical optimism é bem diferente do que a própria Dua Lipa andava prometendo: em entrevistas e comunicados, ela dizia que se tratava de “homeagem à cultura rave do Reino Unido” e “um disco que faz infusão pop-psicodélica”.
O que acabou saindo foi um disco de música pop com bons momentos (a abertura com End of an era e Houdini anima), mas que soa bem mais ou menos se comparado a referências que provavelmente acompanham Dua Lipa há anos, como a disco music e o pop dos anos 1990. O tipo de disco que poderia ter sido melhor trabalhado para não soar tão genérico, embora talvez faça parte de um projeto de Dua para simplificar cada vez mais as coisas, em tempos de epopeias pop e sarrafo levantadíssimo para um estilo musical cuja gênese é o single. Provavelmente a presença de Kevin Parker (Tame Impala) entre os produtores e parceiros foi criando outros caminhos e trazendo outras referências. Mas pra encontrar neo-psicodelia num disco como Radical optimism, basicamente tomado por um tom mais tropical de r&b e house music, você vai ter que procurar bastante.
Por outro lado, é um disco de identificação bastante fácil e rigor quase conceitual. As letras de Radical optimism falam sobre dates furados, bandeiras vermelhas, relacionamentos que deixam marcas (Happy for you é sobre a mulher que vê o ex-namorado com a atual namorada, a ciumeira bate, mas ela se sente feliz pelo tal sujeito), ex-namorados e ficantes que uma mulher nunca mais vai querer ver na vida. Em alguns momentos, as faixas soam quase como um diário do Tinder, ou como threads do Twitter musicadas (já reparou como as pessoas se soltam ao responder perguntas como “qual foi seu pior date?” nesta rede social?).
O hit Houdini fala sobre filas que têm que andar, recorrendo a uma imagem bem interessante, já que o nome do rei da escapologia Harry Houdini é usado como verbo. Se o candidato a namorado da personagem não disser logo a que veio, Dua Lipa se manda (“vou dar uma de Houdini”, em tradução extremamente livre). O r&b latino French exit faz a apologia do ghosting moleque, de várzea, e sugere a saída estratégica antes do fim da festa (“não é um coração partido se eu não quebrar/um adeus não dói se eu não disser”, jura Dua Lipa).
Tem mais: End of an era pega pesado no clima “ih, lá vamos nós de novo” do começo de qualquer relacionamento. A boa balada Anything for love (que talvez responda pelas influências do britpop das quais Dua falou em entrevistas) põe no mesmo balaio empoderamento, noções de auto-estima e… busca de um final romântico e feliz. O hit Training season, põe na mesa mais papo sobre expectativas em relacionamentos, e traz um lado meio ABBA-Cher-Eurovisão para o disco.
Diante das letras do álbum, o otimismo do título chega a soar tóxico. Tá mais para aquele sentimento e aquela atitude que a gente sente que precisa ter quando parece que tudo já ruiu, e nos quais nem a gente bota fé (e, bom, diante da imagem da capa, dá pra sentir a ironia). Musicalmente, talvez você tenha vontade de ouvir o lançamento anterior de Dua Lipa. Mas é isso.
Nota: 6,5
Gravadora: Warner