Crítica

Ouvimos: Drop Nineteens, “1991”

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A espera foi longa, mas 1991 finalmente veio à tona. O álbum traz, pela primeira vez de forma oficial, as demos que o Drop Nineteens gravou em (adivinhe só) 1991 para enviar a gravadoras. Porém, ao conceberem o debute Delaware (1992), a banda optou por compor material inédito, deixando essas gravações de lado – o que acabou alimentando o mercado de bootlegs por anos. Esse material chegou a circular com o nome de Mayfield.

Na era do Rapidshare (lembra?), essas demos ressurgiram e uma renca de fãs e curiosos saiu baixando tudo. Agora, transformadas em álbum, oferecem um retrato fascinante da gênese do grupo. No início dos anos 1990, o Drop Nineteens soava mais como uma banda neopsicodélica, mas com um fascínio particular por paredes de guitarras e microfonias. Daymom, que abre o disco, até lembra os Cocteau Twins, só que em preto e branco, ganhando uma aura fantasmagórica do meio para o fim. Song for JJ é dream pop glacial, feito mais para contemplar do que para sonhar, e seus vocais soterrados na mixagem tornam quase impossível distinguir em que idioma a banda canta. A bateria, ao fundo, não dita o ritmo, mas cria um ambiente etéreo e envolvente.

A diversidade de 1991 é um dos seus trunfos: há muralhas de guitarras e distorções em Back in our old bed, Shannon waves e na tribal e misteriosa Snowbird. Por sua vez, Mayfield traz instrumentos socados e quase irreconhecíveis, enquanto Soapland flerta com um som robótico, que lembra um loop de voz e percussão. Kissing the sea começa com guitarras psicodélicas e vocais nebulosos antes de se transformar em um pós-punk marcial. Já Another summer encerra a seleção com guitarras palhetadas que evocam um The Smiths invernal, encerrando o disco com uma melancolia fria e elegante.

1991 não é apenas um registro de raridades, mas um vislumbre cru e fascinante de uma banda ainda tateando sua identidade – e soando bem mais intrigante do que em discos posteriores.

Nota: 8
Gravadora: Wharf Cat Records
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025.

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