Crítica

Ouvimos: Dilettante, “Life of the party”

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“Diletante” é aquele que exerce uma arte apenas por prazer, sem compromisso profissional — “por esporte”, como se dizia antigamente. E Dilettante é o nome que a multi-instrumentista britânica Francesca Pidgeon escolheu para seu projeto musical, em uma escolha irônica que já dá o tom de seu segundo álbum. A capa de Life of the party antecipa bem o que se ouve: uma mistura entre a irreverência debochada dos Sparks, o clima de café-teatro que permeia discos de Lou Reed, David Bowie e Nico, e a exaustão do início da carreira artística.

Se há algo que poderia definir o álbum, talvez fosse uma estética de rock-cabaré — mas a sonoridade é experimental e pós-punk demais para caber nessa descrição. Francesca, “a” Dilettante, une vocais operísticos a referências que vão de Cyndi Lauper, Kate Bush e Laurie Anderson ao Talking Heads. Isso transparece em faixas como Fun, Twice as clean, Easy does it (essa última com ecos de St. Vincent e de um Wire mais funkeado que o habitual) e Stone, que traz baixo e bateria em tom quase afrobeat, além de um desfecho com metais em clima de big band.

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A variedade do disco se estende para além do pós-punk teatral. To make me good exibe um vocal sexy e jazzístico, com batida quase matemática entre jazz e rock, enquanto os sintetizadores adicionam um toque de magia. In the taxi abre com um piano baladeiro, quase um Elton John reduzido ao essencial, até se tornar uma balada glam. O clima de sonho sessentista se faz presente em faixas como a brincalhona Cake, My toothpaste Ajar (com um tom lounge e pop que remete a The Cardigans e à banda brasileira Pluma, além de um brilho sonoro digno de rádio clássico) e I’m in love with falling in love — esta última, um quase-tema de musical que reforça a conexão com os Sparks.

Daí para frente, o álbum se aventura por ainda mais territórios: Honey flerta com um tecnobrega sofisticado, The stuff dreams are made of mergulha em atmosferas etéreas, e a faixa-título encerra tudo com um tom soturno e agridoce. Life of the party reflete sobre pressões sociais, tristezas pessoais e a comunicação através da música, fazendo do segundo álbum do Dilettante uma joia rara — ainda pouco comentada no Brasil, mas que merece ser descoberta com atenção.

Nota: 9
Gravadora: Launchpad/EMI
Lançamento: 24 de janeiro de 2025.

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