Crítica
Ouvimos: cumgirl8, “The 8h cumming”
- The 8th cumming é o primeiro álbum de estúdio da banda novaiorquina cumgirl8, que se define como uma “entidade ameba alienígena positiva em relação ao sexo” e faz basicamente punk, pós-punk e synth pop – mas com um toque de rock dos anos 1990.
- A banda tem na formação Lida Fox (voz e baixo), Veronika Vilim, Avishag Cohen Rodrigues (ambas voz e guitarra) e Chase Lombardo (voz e bateria). Além da música, elas fazem coleções de moda e também mexem com cinema.
- Temas como relacionamentos abusivos, sexo e patriarcado estão nas músicas da banda. “Não acho que nenhum assunto esteja fora dos limites quando se trata de escrita ou arte. Pessoalmente, tento manter um elemento de esperança se estou escrevendo sobre assuntos mais sombrios, como depressão ou abuso, porque geralmente sou otimista e até idealista”, contou Lida aqui.
Chega a ser sacanagem (opa, enfim: tudo a ver com uma banda que lança um disco chamado “a oitava gozada”) que boa parte da crítica lá de fora já tenha escutado The 8th cumming, segundo álbum do cumgirl8, e o nome do Sigue Sigue Sputnik nem sequer esteja sendo citado de levinho. Bom, o boogie maníaco do grupo pós-moderninho dos anos 1980 tem tudo a ver com Karma police, a puladinha e eletrônica faixa de abertura desse disco. E uma das faixas desse álbum já prontas para escutar no repeat.
Mas no geral, é impressionante como o cumgirl8 nem sequer precisa se esforçar para guiar o timão de seu som para a Inglaterra da virada dos anos 1970 para os 1980 – aquele período em que pós-punks, new waves, new românticos, eletrônicos e revivalistas infiltrados se confundiam o tempo todo, e até duelavam por posições nas paradas. Em The 8h cumming, referências a bandas como The Slits pulam em faixas como Ahhhh!Hhhh! (I don’t wanna go) e Mercy, por exemplo.
O disco tem de tudo: lembranças da fase eletrônica de Pete Shelley (o disco-punk Hysteria), capa lembrando uma perversão de Adam & The Ants ou Tom Tom Club, sujeira eletrônica no limite do hardcore techno (UTI, dos versos “seus homens sujos/nossa dor não é seu ganho”) e uma espécie de visão psicodélica da música do New Order (Simulation, cuja letra relata uma espécie de Tinder lisérgico, ou de webcam no ácido, ou algo do tipo). Já Girls don’t try une punk, new wave e dub em doses quase iguais, com verdaadeiros ataques de bateria e baixo.
Uma boa lição que o cumgirl8 deixa para os dias de hoje, é que zoeira sempre tem tempo e lugar – mas por outro lado, The 8th cumming mistura diversão e protesto, sexo e afirmação pessoal, discurso e doideira, e a zoeira ganha foco. No final, o terror lisérgico e eletrônico da disco-punk iBerry, o tom sinistro e oitentista de NY winter (que tem um ar meio Sleater-Kinney) e o tecnopop vaporoso de Something new.
Nota: 9
Gravadora: 4AD
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