Crítica
Ouvimos: Circuit Des Yeux, “Halo on the inside”
Duas experiências marcaram este sétimo álbum de estúdio do Circuit Des Yeux: uma viagem que Haley Fohr, mente por trás do grupo, fez à Grécia, e o mergulho na composição das músicas, todas feitas em um porão escuro, entre a noite e a madrugada – aparentemente ela quis uma paródia do tradicional “trabalho de nove às cinco”, e fez exatamente isso, só que das nove da noite às cinco da manhã.
Vale dizer que a tal viagem para a Grécia deixou Haley apaixonada pelo mito de Pan – aquele sujeito meio bode, meio homem, que tocava flauta e atraía pessoas, e cuja história é marcada por amor, música, trevas e medo. E esse astral cavernoso, sombrio e belo dá a letra em Halo on the inside, em letras e músicas. Megaloner, na abertura, é um batidão quase industrial, entre o pop e o aterrorizante, cujo clipe mostra pessoas fazendo movimentos repetitivos e chafurdando no tédio, enquanto Haley canta versos como “com o tempo, você me verá através de todas as coisas sonhadoras / eu posso ver o rosto em qualquer coisa quando a maré puxa pra mim”.
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Já Canopy of Eden tem batidão insinuando um baile funk, vibe sombria e vocal quase gregoriano – mas, contraditoriamente, é um som eletrônico que envolve e abraça o ouvinte. Daí para a frente, Halo on the inside alterna entre momentos mais trevosos e segmentos de beleza quase progressiva. Skeleton key, entre vibes celestiais e vocais gritados, chega a lembrar algo de Peter Gabriel, por causa das percussões e teclados meditativos – até que um clima entre o metal e o industrial vai encerrando a faixa. Anthem of me, que lembra um ambient aterrorizante, é basicamente um post-rock, com todo o clima cinematográfico que o estilo pede.
Seguindo o conceito de Halo, é interessante a única faixa mais “tranquila” do álbum se chame justamente Take the pain away, puramente som espacial, com teclados voando. Cosmic joke tem essa mesma onda interestelar – mas é como se o espaço fosse um lugar tão opressor quanto a Terra – além de vocais próximos do jazz. Truth é uma corrente percussiva que lembra uma missa pagã, ou uma Kate Bush do demo, com Haley dizendo versos como “a verdade é apenas a imaginação da mente”. Organ bed é tribal e tecnológica, com uma certa guerra sonora lá pelos três minutos. E Cathexis é uma espécie de pós-punk progressivo – ou de progressivo feito por quem escutou muito Killing Joke.
Sem nenhum minuto perdido no geral, Halo on the inside é um disco que prende o ouvinte num universo próprio – denso, ritualístico e inesperadamente envolvente.
Nota; 8,5
Gravadora: Matador Records
Lançamento: 14 de março de 2025.