Crítica
Ouvimos: Chico Buarque, “Que tal um samba? – ao vivo”
- Que tal um samba?, disco ao vivo de Chico Buarque, que ganha também versão em DVD e CD duplo, foi gravado nos dias 3 e 4 de fevereiro no Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ). O disco traz o show na ordem, abrindo com a participação da convidada Monica Salmaso, que também fecha o show.
- O repertório faz uma boa coletânea da obra de Chico, partindo do fim dos anos 1960 e chegando à nova Que tal um samba?, cuja versão de estúdio permanece apenas em single. Da fase RGE, só aparece Noite dos mascarados.
- Na banda de Chico, o diretor musical Luiz Cláudio Ramos (violão), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), João Rebouças (piano e cavaquinho), Jorge Helder (baixo e bandolim), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Bernardes (saxofone, flauta e clarinete), além do próprio Chico ao violão.
Não havia como separar a obra de Chico Buarque da política nos anos 1960 e 1970. Canções do comecinho da carreira dele, como Olê olá e A banda, refletem um sentimento de desesperança da época, enquanto músicas lançadas alguns anos depois partem para um tom mais combativo e direto.
O detalhe é que também não há como fazer essa separação nos dias de hoje. Provavelmente nunca haverá – ainda mais para quem não passou os últimos anos em Marte e deparou com esse Que tal um samba? – ao vivo, gravado quando o Brasil já estava livre do desgoverno, tendo à frente uma plateia (extremamente) animada em soltar a voz nos clássicos do cantor.
Não apenas isso: o público de Chico se transforma em um personagem à parte, que vai ganhando mais espaço à medida que o disco prossegue. Abafa os vocais do cantor em sucessos como Samba do grande amor e O meu guri, saúda novos tempos no fim do single Que tal um samba?, descobre uma história do Brasil em faixas como Bancarrota blues, Sinhá e Assentamento. Hits de carga cinematográfica como Mil perdões, Choro bandido, Bastidores e Sob medida surgem num só bloco, ao fim do primeiro CD. Maninha aparece como homenagem à irmã Miúcha, morta em 2018.
Que tal um samba? valoriza também a presença de Monica Salmaso, convidada especial do show de Chico, e que aqui, divide boa parte do repertório com ele, como uma personagem importante num musical em que o repertório histórico é o protagonista. Solo ou com Chico Buarque, canta em Sem fantasia, Imagina, Passaredo, e também na impressionante (e sintomática) abertura com Todos juntos, do infantil Os Saltimbancos. Fãs roqueiros de Chico provavelmente vão se animar com a menção a Jimi Hendrix (!) num papo de palco entre Chico e o baixista Jorge Helder. Nem precisa ouvir no volume máximo – o som de Que tal um samba? já soa naturalmente nas alturas.
Gravadora: Biscoito Fino
Nota: 10
Foto: reprodução da capa do álbum (foto original de Leo Aversa)