Crítica
Ouvimos: Chemical Brothers, “For that beautiful feeling”
- For that beautiful feeling é o décimo álbum de estúdio da dupla Tom Rowlands e Ed Simons, os Chemical Brothers. O álbum tem participação de Beck (em Skipping like a stone) e de Halo Maud (na faixa-título e em Live again). A versão lançada no Japão tem duas faixas a mais: I want to know e All of a sudden.
- No reason, um dos singles do álbum, tem sample de uma banda pouco conhecida da new wave britânica, Second layer, formada por Adrian Borland e Graham Bailey, dois músicos que também faziam parte de um grupo mais ilustre, o The Sound. Os dois receberam créditos de composição em No reason, pela amostra, além de um agradecimento público de Tom e Ed.
- Além do disco, os Brothers anunciam Paused in cosmic reflection, livro retrospectivo de toda sua carreira, a ser lançado pela White Rabbit em 26 de outubro de 2023.
O grande atrativo dos Chemical Brothers é conseguir fazer cinema em música. Desde os primeiros álbuns, o som de Tom Rowlands e Ed Simons não apenas é totalmente visual, como deixa uma certa impressão de road movie eletrônico, de música feita para encarar grandes estradas e altas aventuras, e não necessariamente (ou apenas) grandes festivais.
Por acaso, no século 21, a missão de Ed e Tom parece ser mostrar que existe um oceano de diferenças entre o som deles e o papel funcional que a música eletrônica vem adquirindo no mundo de hoje. Normal: a onda dos Chemical Brothers é usar a linguagem do techno e do house para levar todo mundo para outra dimensão, num reflexo psicodélico, por vezes meio sombrio, e repleto de beats dançantes, do que é possível fazer com a música eletrônica. Vem dando certo há dez álbuns, com lançamentos regularmente legais e bem recebidos. Vem, em especial, abrindo mentes e ouvidos.
For that beautiful feeling é bom – não tanto quanto Born in the echoes (2015), o disco de Go, e o melhor trabalho da dupla nos últimos anos, mas você tem que ouvir. O começo do disco é quase uma música só, com quatro faixas interligadas em um só módulo dançante, incluindo a turbinada No reason, com participação de Halo Maud. Segue para o house sinuoso e sujinho de Fountains e para o house + soul sombrio de Magic wand. Já The weight, com uma embalagem house-funk, faz jus ao título e põe peso na história, com uma letra (uma das raras do disco) variando quase sempre entre as frases “quem vai carregar esse peso?” e “quem vai levar essa culpa?”.
Com participação de Beck, Skipping like a stone é uma combinação de tons solares e de introdução que parece um tributo a Transmission, do Joy Division. No final, tem a beleza quase beatle da faixa-título (outra com Halo Maud) e os altos volumes e o peso de Feels like I am dreaming.
Gravadora: Virgin/EMI
Nota: 8
Foto: Reprodução da capa do álbum