Crítica
Ouvimos: Bria Salmena, “Big dog”
“Eu não tenho grandes expectativas / o que quer que isso signifique”, jura a canadense Bria Salmena em Drastic, primeira faixa de sua estreia solo, Big dog. No Brasil, o nome de Bria provavelmente não é muito comentado – mas lá fora, ela já tocou numa banda de pós-punk chamada FRIGS e fez vocais de apoio para o novo countryman Orville Peck.
Tem até algo de country e pós-punk no som do disco dela, mas essencialmente, Big dog é uma espécie de disco de rock que, hum, “une todas as tribos” (como disse certa vez Dinho Ouro Preto ao citar o Nirvana e escrever erradamente “Norvana”). Bria tem voz grave, rouca e sexy e investe em tons sombrios, guitarras que formam paredes – sem que o som se transforme em shoegaze -, vibes que lembram Pretenders e Siouxsie and The Banshees e momentos em que o grito substitui o canto.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Drastic abre o álbum jogando Big dog em climas trevosos (graças à guitarra e à bateria), Closer to you é uma canção agridoce e inorgânica – por causa dos teclados e bateria quase sequenciados – e Radisson parece evocar bandas oitentistas como The Church, que uniam pós-punk e dream pop. As indefectíveis referências de soft rock que aparecem em vários lançamentos surgem também em Big dog, em faixas como Backs of birds. Rags, que já rendeu um clipe safadinho, insere mais rock dos anos 1980 com argamassa gótica na história – nessa faixa, a voz de Bria se torna quase gutural.
No geral, Bria parece interessada em unir épocas diferentes do rock. Soa como um Queen raivoso, com drive na voz, no quase tecnopop Stretch the struggle, volta a climas sombrios em See’er (com Lee Ranaldo) e Peanut, e chega perto do post-rock em Twilight, On the line e Water memory. Tudo isso faz de Big dog um caderno de referências e um catálogo de explorações musicais, e uma estreia de peso.
Nota: 8
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 28 de março de 2025