Crítica
Ouvimos: Blossoms, “Gary”
- Gary é o quinto disco da banda britânica Blossoms, formada por Tom Ogden (voz, guitarra, gaita, piano), Charlie Salt (baixo, guitarra, backing vocals), Josh Dewhurst (guitarra solo, percussão), Joe Donovan (bateria) e Myles Kellock (teclados, synth, piano, backing vocals).
- O disco é o primeiro lançamento pelo selo próprio da banda, ODD SK, após deixar a EMI Virgin. “Não houve histórias de terror, mas queríamos ter um acordo melhor em nossos masters. Parecia o momento certo para fazer isso. Ficamos um pouco mais velhos e estamos há 10 anos também”, diz Ogden.
- Você talvez já até tenha lido: o nome Gary e a faixa-título surgiram quando Ogden ouviu a história bizarra de um gorila de fibra de vidro que foi roubado de um centro de jardinagem na Escócia no ano passado. O gorila foi encontrado num acostamento, serrado ao meio (!). Para o clipe da faixa, que tem participação de ninguém menos que o cantor Rick Astley, o grupo mandou vir da Escócia um gorila de fibra de vidro de mais de dois metros – tão fiel ao original que a filha do dono do gorila roubado entrou em contato com a banda, suspeitando de roubo (!!)
Com aparência de frequentadores da Praça São Salvador (reduto cool na Zona Sul do Rio), o Blossoms faz uma mescla de indie rock anos 2000, pós-punk, new wave e um certo design musical e lírico, digamos, “feliz” – o que acontece até mesmo quando as músicas não são tão alegres assim. A capa do novo álbum, Gary, com os integrantes do quinteto formando as letras da palavra, lembra mais um disco do Weezer ou de qualquer outra banda de power pop.
Não por acaso, o álbum abre com a suingada e irônica Big star. A letra é pura zoação com influencers da vida cultural – mas cita nomes como Marilyn Manson, Jim Morrison e Laurel Canyon (reduto norte-americano de cantores ensimesmados nos anos 1970, como James Taylor, Harry Nilsson e Joni Mitchell) e é fácil imaginar que os sons do grupo de power pop setentista Big Star estão fazendo parte das playlists do quinteto.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Não apenas isso, já que muito de Gary soa como se os Pet Shop Boys decidissem fazer um álbum de rock, com guitarras misturadas a synths, programações e texturas. É o que rola em What can I say after I’m sorry?, na surfística e festeira faixa-título (na qual a história de Gary, o mascote da turma, ganha contornos fantasiosos), em Mothers e na beleza de Nightclub, cuja letra fala sobre uma turma que tenta arduamente – e consegue – entrar numa boate, após alguns minutos de pânico: “dizem que não vamos entrar, mas temos que tentar/e a fila tem meio quilômetro/é foda esperar meia hora pra entrar”.
O Blossoms soa mais oitentista, e mais próximo do pós-punk britânico da época, em faixas como os synth pops Perfect me e Slow down e em Why do I give you the worst of me?, boa união de riffs de guitarra e timbres de teclados. E presta uma boa homenagem ao Blondie e ao Wham! em I like your look. Uma das características da banda é dar uma certa cara pós-disco, ou disco-punk a todo o seu repertório – como se a batidinha de Heart of glass, do já citado Blondie (ou a de Everywhere, do Fleetwood Mac) fosse uma referência a ser buscada em quase todo o álbum. Para fãs desse tipo de design musical festeiro, é imperdível.
Nota: 8
Gravadora: ODD SK Recordings