Crítica
Ouvimos: Blood Wizard, “Grinning William”
- Grinning William é o segundo álbum do grupo britânico Blood Wizard, projeto do músico Cai Burns. A produção foi feita por Theo Verney. Ao lado de Cai (voz, guitarra), estão Faye Robinson (voz, teclados), Tom Towle (guitarra), Ben Davis (baixo) e Adrian Cook (bateria).
- O release apresenta o álbum como um lançamento mais calmo do que os anteriores ligados a Cai. “As inclinações mais alt-folk de sua estreia foram amplamente introduzidas em vez de guitarras baixas e mais robustas”, diz.
- Nomes como Cate Le Bon e a neozelandesa Aldous Harding são citados como influencias por Cai.
Se você vir a capa do novo disco do Blood Wizard, levar em conta o nome da banda, e resolver ouvir achando que se trata de algum disco de heavy metal ou stoner rock, vai dar com a cara na porta – mas vá lá que a abordagem deles do som lo-fi tem seus parentescos com o design musical casca-grossa. O som do Blood Wizard opera em linhas nada finas localizadas entre Lou Reed e Mazzy Star, entre Primal Scream e Velvet Underground, entre o indie britânico dos anos 1980 e o vanguardismo de David Bowie nos anos 1970.
Essa segunda faceta dá as caras em Apples + Oranges, canção dançante e falada, enquanto um lado agridoce e pop surge em Sciencefiction, a faixa de abertura de Grinning William . Na sequência, a faixa título, cantada pela tecladista Faye Robinson com voz despedaçada, é pura acidez, algo próximo do shoegaze, mas sem a explosão do estilo musical. Devil dressed in disguise ameaça uma batida meio surf, meio Jorge Ben no começo, mas é só disfarce: a canção vira um pós-punk dançante, com ritmos quebrados, lembrando bandas como Television Personalities. A letra traz os pensamentos viajantes de alguém que descobriu que era o diabo disfarçado – algo entre o cut up de William Burroughs e Arnaldo Baptista/Syd Barrett.
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O que vem depois em Grinning William surpreende: o grupo consegue soar como um The Fall focado na construção de canções e influenciado pela fase anos 1990 de Bowie (Big fish). Depois solta uma baladinha linda, psicodélica e meio louca (Babytooth, que parece usar a metáfora dos “dentes de leite” para falar sobre perda da inocência), um folk-de-bateria-eletrônica com vocais rappeados (Back2bed), um belo pós-punk de synth e violão (Indecision, dos versos “tentamos tirar um tempo para sermos nós mesmos/quem se importa com o que está acontecendo lá fora?/estamos aqui em casa dançando”).
Fechando, lembranças de Day in, day out, do XTC, em Sinister star, e o tom circular e hipnótico de Higher energy!, ameçando um stoner rock no começo, e tornando-se um pós-punk experimental e motorizado. Quem ouvir o disco no Bandcamp ganha uma faixa bônus, a baladinha lo-fi Flowers of evil. No geral, Grinning William é surrealismo poético e musical, com excelentes melodias e surpresas pelo caminho.
Nota: 9
Gravadora: Sad Club Records