Crítica
Ouvimos: Billy Idol, “Dream into it”
Tinha algo de mágico nos discos que Billy Idol lançou nos anos 1980 – por sinal, uma magia que dificilmente vai se repetir na música do mundo. O melhor escaninho para se colocar clássicos como Rebel yell é o da música pop. Mas era um pop de guitarras, vocais gritados e referências tanto do punk quanto do soul, que acabava agradando roqueiros (os menos radicais) e os fãs de música pop que gostavam de um som mais pesado. Nem todo mundo levava Billy a sério, mas era um cara que dependendo da música, poderia tocar na Fluminense FM e na Transamérica sem que ninguém saísse ofendido.
O mundo mudou, as definições ligadas a esse negócio chamado “música pop” mudaram junto, e se um cara surgisse hoje com hits como Dancing with myself e Eyes without a face na carteira, talvez fosse imediatamente infantilizado pelo mercado, ou jogado no escaninho do emo, ou descredibilizado. Vai daí que Dream into it, novo disco de Billy (cuja carreira discográfica vinha se resumindo a singles e EPs há alguns anos), em alguns momentos soa como o cantor tentando se despir da capa de popstar, pisando no chão e assumindo (ao que parece) que seu legado deu no punk pop, e não exatamente num pop com cara de malvado.
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A maldade de Dream into it está no próprio personagem do disco, digamos: o álbum inteiro fala da vida, paixão, ascensão e queda de Billy, pegando pesado em detalhes autobiográficos, e assumindo alguns erros bizarros, mas em clima de superação. Entre os melhores momentos, estão a lembrança do tempo da fome no pop-punk Dream into it, a dramaticidade do hard rock-punk Wildside (com Joan Jett) e a zoeira de 77 (com Avril Lavigne), uma música para beber, pegar a estrada e sair no tapa pelas ruas como os velhos punks.
Dream into it tem um Rebel yell próprio, que é Still dancing – a letra, por acaso, diz “eu ainda estou dançando / mas não estou mais sozinho”, fazendo referência a Dancing with myself. No punk romântico People I love, Billy ajoelha no milho: “preciso encontrar um jeito de parar de decepcionar as pessoas que amo / (…) eu sei que deveria me desculpar, mas não me lembro do que fiz ontem à noite / não sei como cheguei em casa, mas meu carro não está estacionado lá fora”. Um pop-punk de respeito é Gimme the weight, que relembra a roda-viva de drogas e reabilitações que Idol viveu nos anos 1990.
No fim das contas, Dream into it tem qualidades, mas não indica um recomeço ou uma continuação nos moldes do que acontece hoje com bandas como The Cure e Smashing Pumpkins. Já que Billy anda bastante mergulhado em sua própria história, seu lado misterioso e trevoso merece ser revisitado nos próximos discos – antes que ele comece a fazer feats com gente que ele deveria assustar.
Nota: 6,5
Gravadora: Dark Horse/BMG
Lançamento: 25 de abril de 2025.