Crítica
Ouvimos: Assucena, “Lusco-fusco”
- “A ideia foi falar sobre os mais diversos processos de transição: no amor, na vida, no que se refere às identidades de gênero, às descobertas do mundo, aos ciclos da vida”, conta Assucena sobre seu primeiro disco solo, Lusco-fusco, que tem produção musical de Pupillo e Rafael Acerbi e direção artística da própria cantora, ao lado de Céu.
- O repertório do disco é autoral, e tem participações de nomes como Pretinho da Serrinha (percussão e cavaquinho em Menino pele cor de jambo), Hervé Salters (teclados em Nu), Rafael Montorfano (piano em Quase da cor dos seus olhos e Reluzente).
- Nascida em Vitória da Conquista (BA), Assucena foi fundadora da banda As Bahias e A Cozinha Mineira – nome depois mudado para As Baías. Está em carreira solo desde 2021.
Tem dois lados bem demarcados na estreia solo de Assucena. O primeiro a surgir é um lado mais diversificado e retropicalista, regido pelo samba, mas sob o signo das misturas musicais – que aparece bastante em faixas como Menino pele cor de jambo, o bolero Nu (que lembra uma gravação de Ney Matogrosso) e Fluorescente. E uma outra faceta, mais presente no álbum, mais voltada para a união de jazz, blues e MPB, lembrando Elis Regina. É o que surge, em especial, na voz e piano de Quase da cor dos seus olhos, na nordestina Enluarada, e no tom íntimo de Manhoso demais e Reluzente. Entre uma e outra faceta, há várias nuances.
Vale dizer que a voz de Assucena insere climas solenes, até mesmo no arrocha e no pop de A última, quem sabe e Ad aeternum. Montado pela cantora como uma narrativa de “transições do dia para a noite e da noite para o dia” (diz o texto de lançamento), Lusco-fusco é um disco curto (33 minutos) que mesmo tendo influências modernas, soa como um disco de MPB dos anos 1980. Tanto em produção quanto em escolha de repertório (boa parte das músicas têm cara de trilha de novela), sem falar no cuidado extremado com interpretações e climas diversos, indo da noite para o dia entre uma faixa e outra, ou entre um imaginário lado A ou lado B.
Gravadora: Altafonte
Nota: 8
Foto: Natália Mitie/Divulgação